Longa se destaca pela competência do seu diretor em conduzir a narrativa com elegância e tirar o melhor dos excelentes artistas que comanda.
Em seus últimos trabalhos, David O. Russell tem se saído melhor quando não procura rebuscar demais a sua proposta. “O Vencedor” (2010) e “O Lado Bom da Vida” (2012), de temáticas e narrativas mais simples, são ótimos filmes, enquanto “A Trapaça” (2013), em sua trama bagunçada, não passa de um embuste mal desenvolvido. No caso deste “Joy: O Nome do Sucesso”, o diretor revisita aquilo que o consagrou como um dos nomes queridos pela indústria, entregando uma obra simples, bem dirigida e com ótimas atuações. Ainda que não seja sua melhor realização, é um longa honesto, que não precisa se apoiar em firulas ou muletas narrativas vazias para se sustentar
Sim, existe uma narração em off (recurso que só deveria ser utilizado com muita habilidade e precisão) completamente desnecessária e que não acrescenta nenhuma camada extra à trama, mas David O. Russell (também roteirista, ao lado de Annie Mumolo) consegue driblar esta firula mal colocada com eficiência, entregando personagens carismáticos em uma jornada que nos deixa sempre curioso sobre o que virá em seguida. Nem sempre, é bem verdade, as expectativas criadas são supridas com soluções à altura por parte do script, o que empalidece um pouco a obra quando analisada sob uma ótica macro – e aqui me refiro mais especificamente ao terceiro ato -, mas também não acredito que nos surpreender excessivamente tenha sido a intenção de qualquer um dos realizadores.
Aqui, acompanhamos a história da menina Joy (Jennifer Lawrence), uma garota doce e inventiva que, pelos percalços que a vida colocou em seu caminho, acabou crescendo e se tornando uma mulher que não alcançou o sucesso e o brilho que parecia que realizaria. Pais (Robert De Niro e Virginia Madsen) problemáticos, um casamento precipitado e que não deu certo, gravidez precoce, dívidas suas e da sua família, enfim, nada ajudou para que Joy se tornasse “a mulher que ela nasceu pra ser”, ou pelo menos a mulher que a sua avó Mimi (Diane Ladd) idealizou que ela seria.
Tudo muda de figura quando ela resolve tomar as rédeas do seu destino e voltar às raízes da sua infância, utilizando sua criatividade para inventar objetos aparentemente sem importância – bem funcionais, todavia -, criando um tipo de esfregão prático e tentando fazer com que ele venda bem para ajudar nas dificuldades do dia-a-dia em casa. É aí que o longa deixa um pouco a faceta lúdica de lado e entra mais na parte da cinebiografia propriamente dita, pois sim, Joy Mangano é uma mulher real e responsável por uma série de pequenas invenções que até hoje usamos em nosso cotidiano. O tal do esfregão é uma delas.
O contexto no qual a personagem principal está inserida é bastante triste e sofrido, com seu mundo desmoronando ao seu lado e ela tendo que se desdobrar em várias pessoas para dar conta, sozinha, de tudo isso. Assim, talvez a principal virtude do filme seja justamente tirar o peso de uma trama que tinha tudo para ser densa e modorrenta, e dar-lhe um ar mais leve e divertido, encarando todos os problemas que aparecem na jornada com o melhor bom humor que a situação permite – o fato de a protagonista se chamar Joy (alegria), por exemplo, é uma coincidência narrativa poética neste sentido. O mais interessante é que isso também não invalida todo o drama presente na história, apenas convive “pacificamente” com ele em tela, de forma a cada um ocupar seu espaço e aparecer no momento correto.
Neste sentido, é impossível não destacar a habilidade de David O. Russell em comandar os atores e atrizes de seu elenco. Jennifer Lawrence é o grande destaque, claro, com uma composição minimalista e segura, que não chama atenções demais para si, mas oferece toda a carga (dramática ou cômica) que a cena pede naquele instante. Robert De Niro, Virginia Madsen e Bradley Cooper (quando aparece) também não deixam por menos e entregam trabalhos consistentes. Alias, O. Russell faz um grande bem ao De Niro nessa fase atual da carreira; o diretor já o tirou da zona de conforto duas vezes nos últimos anos – e os cinéfilos de todo o mundo agradecem.
Um pouco óbvio em suas mensagens de superação e persistência, mas eficiente em sua abordagem, “Joy: O Nome do Sucesso” é daqueles filmes açucarados e inofensivos. Uma espécie de feel good movie, que funciona mais pela elegância do diretor e da competência dos atores e atrizes envolvidos do que por uma história particularmente marcante.