Cinema com Rapadura

OPINIÃO   terça-feira, 26 de janeiro de 2016

A 5ª Onda (2016): apenas mais uma distopia juvenil

Misturando clichês de sci-fi e de obras young adult contemporâneas, está tentativa da Sony de ser abraçada pelo público jovem resulta em uma produção nada memorável.

A-5a-Onda-filmeBaseado no livro de Rick Yancey (o qual não li), a trama deste “A 5ª Onda” gira em torno de uma invasão alienígena que acaba com o mundo como o conhecemos, primeiro privando a Terra de eletricidade, devastando as cidades litorâneas com maremotos, infectando a população com uma forma agressiva de gripe aviária e, finalmente começando uma invasão. Até partirem para a quinta onda de agressão do título.

Com essa premissa, parece uma obra no estilo “Guerra dos Mundos”, certo? Quem dera. Na verdade, a fita é uma tentativa da Sony emplacar sua própria franquia Young Adult, no estilo distópico, incluindo os elementos da jovem heroína sofredora e um romance impossível (aqui, um triângulo amoroso a moda “Crepúsculo“). Mas o fato é que este “A 5ª Onda” está longe de ser “Jogos Vorazes” e “Divergente”. Diabos, está longe até mesmo de ser “Crepúsculo”…

Em meio a este mundo em caos, a protagonista Cassie (Chloe Grace Moretz), que estava em um campo de refugiados ao lado de seu pai (Ron Livingston) e irmão, Sam (Zackary Arthur), acaba se separando da sua família quando um grupo de militares liderados pelo Coronel Vosch (Liev Schreiber) chega ao local e recruta forçadamente as crianças de lá, revelando ainda que os Outros agora podem assumir forma humana e estão no meio deles. Tendo de encontrar seu irmão, Cassie se vê obrigada a confiar no misterioso jovem Evan Walker (Alex Roe) para avançar em sua jornada.

O roteiro escrito a seis mãos por Susannah Grant (“Erin Brockovich – Uma Mulher de Talento“), Akiva Goldsman (“Batman & Robin“) e Jeff Pinkner (“Lost” e “O Espetacular Homem-Aranha 2“) é uma bagunça, contando com uma narração em off inconstante, um uso atrapalhado de clichês e diálogos que conseguem ser tão constrangedores quanto os do primeiro “Crepúsculo” – bem como um romance tão forçado quanto o de Bella e Edward.

Para completar, a protagonista acaba tendo a história menos interessante do filme, cuja narrativa se bifurca e acaba focando também em seu ex-colega de colégio e (por coincidência) superior hierárquico de Sam, Ben “Zumbi” Parish (Nick Robinson), em uma subtrama sobre a natureza da quinta onda de invasão que, se fosse melhor trabalhada, daria sim um bom filme – até a melhor figura feminina da produção, a valente Ringer (Maika Monroe, do ótimo “Corrente do Mal“), surge neste lado da produção.

Por outro lado, Chloe Grace Moretz se vê empacada em um drama de sobrevivência que não vai a lugar nenhum justamente por aparecer um rapaz atraente que, do nada, se apaixona por ela e resolve cuidar dela, mesmo de longe. Também não ajuda que Moretz e seu par, Alex Roe, não tenham lá muita química, com o affair dos dois lembrando mais uma síndrome de Estocolmo.

Até mesmo a real natureza de alguns dos personagens se torna clara muito rapidamente, não havendo mistério sobre quem é ou não alienígena, matando a sensação de paranoia que, em tese, o filme queria passar, muito por conta da mão pesada do inexperiente diretor J Blakeson. Sem os realizadores saberem como lidar com o pesado pano de fundo da produção, sendo incabível até mesmo o humor involuntário de “Crepúsculo” o tom desta acaba se tornando inconstante, dificultando qualquer conexão com o andamento da trama, especialmente quando esta termina de maneira anticlimática, sem qualquer catarse ou resolução, esperando por uma continuação que, pelo andar da bilheteria mundial, não virá.

Thiago Siqueira
@thiago_SDF

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