Cinema com Rapadura

OPINIÃO   terça-feira, 17 de novembro de 2015

Como Sobreviver a um Ataque Zumbi (2015): sem cérebro e sem graça

Mesmo bebendo de ótimas fontes e tendo a ideia bacana de confrontar zumbis e escoteiros, o filme acaba empacando na mediocridade criativa de seus realizadores.

como-sobreviver-a-um-ataque-zumbi-cartazNos anos 1980, ficou em voga um estilo de filme de horror que misturava, de maneira irreverente, terror, comédia e um pouquinho de picardia sexual (pensem em algo como o projeto “Grindhouse” de Tarantino e Rodriguez). Vários cineastas de hoje cresceram tendo esses filmes como referência, o mais conhecido deles sendo o britânico Edgar Wright, que em 2004 escreveu e dirigiu o ótimo “Todo Mundo Quase Morto”, que misturava pubs ingleses e zumbis de um modo bem divertido. Já este “Como Sobreviver a um Ataque Zumbi” parece mais um cover de uma homenagem.

Isso não seria um problema não fosse a qualidade mais que duvidosa da fita. Dirigida e co-escrita por Christopher Landon (que comandou “Atividade Paranormal – Marcados Pelo Mal”), a produção teve ainda o dedo de outros três roteiristas, incluindo Emi Mochizuki e Carrie Lee Wilson, cujo currículo se resume ao desastroso “Como Viajar Com o Mala do Seu Pai”. Mesmo escrito a oito mãos, o texto parece mais uma colagem de clichês oitentistas, apropriado para um filme homenagem, mas carecendo desesperadamente de qualquer vida própria.

Logo no prólogo, com o humor grosseiro e sem graça do comediante Blake Anderson, a fita já dá o tom do tipo de produção que vamos ver pela frente. Acompanhamos os escoteiros Ben (Tye Sheridan), Carter (Logan Miller) e Augie (Joey Morgan) que, excluídos de uma festa secreta do colégio, acabam se tornando a única chance de sobrevivência desses garotos quando a cidade é acometida por uma epidemia de zumbis, contando com a ajuda da durona Denise (Sarah Dumont) para sobreviverem à horda de desmortos.

O diferencial, que seria focar a trama nos escoteiros (algo anunciado no título original, mas que se perdeu na tradução) mal é explorado. Poderia se trocar o pessoal do “sempre alerta” por qualquer outro grupo de losers tradicional do ensino americano como clube do áudio-visual que o roteiro não sofreria grandes mudanças.

Ben, Carter e Augie acabam sendo meros estereótipos, com o certinho, o tarado e o perdedor entre perdedores. Não há nenhum problema nesse esquema de personagens, sendo isso até recomendável nesse tipo de trama para facilitar a identificação dos garotos e já partir para a trama, mas aqui os atores não tem mais nada além disso com o que trabalhar. Nenhuma característica diferencial, nenhuma fala memorável, nada. Mesmo o relacionamento entre os três escoteiros, que deveria ancorar o filme, acaba sendo deixado de lado, trabalhado inicialmente com a sutileza de uma marreta e logo depois esquecido.

Além disso, o roteiro coloca como grande desafio do protagonista conquistar a garota dos seus sonhos, Kendall (Halston Sage), com quem Ben divide apenas três cenas. Não existe qualquer investimento emocional do público no que deveria ser o grande arco do personagem principal. Mesmo quando Tye Sheridan e Halston Sage aparecem juntos, não existe nem um pingo de química entre eles.

Já Sarah Dumont se sai muito bem como a valente Denise, roubando todas as cenas em que aparece. O contraste entre o visual e a atitude decidida da moça com o trio de escoteiros destaca a personalidade de cada um. Sem contar que Dumont e Sheridan funcionam bem em cena e os arcos de seus personagens se completam, tornando ainda mais sem sentido o terceiro ato do longa.

Os zumbis em si são pouco assustadores e a maquiagem jamais funciona. Sem contar que o próprio filme parece pouco consistente em relação ao que as criaturas podem fazer. Em dado momento – uma das poucas cenas realmente engraçadas da produção -, vemos um zumbi imitando os protagonistas. Em outro, uma das criaturas começa a correr de quatro como um animal feroz. Esses comportamentos só aprecem uma vez e não são mais repetidos.

As cenas de nojeira/ação são extremamente sem graça, as piadinhas sexuais como o “fom fom”, a stripper zumbi e uma envolvendo o pênis (de borracha) de um dos mortos mais constrangem do que fazem rir e até mesmo o massacre final pouco empolga. Mesmo trabalhando com boas referências, “Como Sobreviver a um Ataque Zumbi” jamais faz jus ao seu DNA, graças à capacidade limitada dos envolvidos.

Thiago Siqueira
@thiago_SDF

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