Bagunçado e irregular, longa reúne ótimo elenco em torno de propostas mais interessantes do que bem executadas.
Por trás de todo bom filme de ação que se preze, há uma boa proposta que lhe dê sentido. A ação pela ação, em geral, costuma render trabalhos medíocres, onde não nos importamos muito com seus agentes condutores. Neste “Operações Especiais”, de Tomas Portella, acontece justamente o contrário (o que não necessariamente é algo bom ou ruim): por trás de uma boa proposta, há um filme de ação. A questão é que jamais o argumento chega a alcançar seu máximo potencial e a ação também não é frenética o suficiente para manter o espectador fielmente vidrado à narrativa.
Escrito também por Tomas Portella, ao lado de Mauro Lima e Martina Rupp, o longa nos conta a história de Francis (Cléo Pires), uma recém formada do ramo da hotelaria que resolve, por motivações que nunca ficam muito claras, se juntar às forças policiais. Ambientado em um período bastante conturbado para a classe no Rio de Janeiro, ela terá que se envolver em operações diretas numa pequena cidade do interior fluminense, São Judas do Livramento. Para tanto, ela terá o apoio (e a dúvida) de companheiros já experientes, como Décio (Fabrício Boliveira) e Roni (Thiago Martins), além do chefe Paulo Froes (Marcos Caruso).
O primeiro ato é o mais problemático de todos. Começamos vendo Francis trabalhando em um hotel e aparentemente satisfeita com isso; depois que este é alvo de uma tentativa de assalto, ela parece ficar traumatiza (algo que nunca nos é mostrado) e, após uma conversa de cinco segundos com uma colega de trabalho, decide prestar concurso para a polícia civil e logo já está encarregada de integrar operações especiais de ocupação como uma das melhores novatas. Quer dizer, são sequências de acontecimentos e reviravoltas na vida de uma personagem que acabamos de conhecer que não temos tempo sequer para nutrir qualquer tipo de simpatia pela personagem de Cléo Pires, além de não sabermos suas reais motivações para encarar tal empreitada tão perigosa.
Cléo Pires finalmente encontra espaço no cinema para brilhar em um filme só seu. Após uma série de trabalhos como coadjuvante ou protagonista de comédias românticas banais, a atriz mostra todo o seu potencial em uma composição segura e sem grandes exageros. Se existe um elemento que não podemos reclamar neste “Operações Especiais”, aliás, é a qualidade de seu elenco. Além de Pires, os personagens secundários são interpretados de maneira bem competente por Marcos Caruso, Thiago Martins e Fabrício Boliveira, resultando em interações sempre interessantes.
Por outro lado, por mais que consigamos enxergar uma trajetória retilínea e consistente de Francis, é impossível ignorar outros aspectos que prejudicam o resultado final. O script irregular, que em instante nenhum consegue elevar a ambição das discussões e temas propostos (da segurança pública, da corrupção, da mulher como protagonista em um ambiente predominantemente masculino, etc) a um nível realmente elevado; a câmera de Portella frenética (especialmente no começo, o que é algo completamente sem sentido) e o abuso de planos detalhes parece querer chamar atenção demais para si; enfim, é uma obra que sempre promete mais do que entrega, e possui momentos muito melhores do que outros, redundando em uma experiência pouco constante.
Assim, temos um filme apenas mediano, que até consegue se destacar ante ao marasmo do nosso cinema comercial, mas não chega a atingir todo o seu potencial. Vale conferir, mas não vá com expectativas de acompanhar uma versão feminina do Capitão Nascimento, em que pese o bom trabalho de Cléo Pires.