Uma obra com propostas interessantes, mas sabotada por atuações medíocres e um roteiro muito aquém de suas pretensões.
Assistindo ao trailer deste “Bata Antes de Entrar” pela primeira vez, me pareceu interessante a proposta de se construir uma atmosfera de suspense (e terror, por que não?) por meio de fantasias sexuais e tensão claustrofóbica; tentar assustar pela loucura e bizarrice. Acontece que essa ideia só se concretiza na metade final de projeção, e ainda com resultados bastante questionáveis. Até lá, o que temos é uma obra que mais se preocupa em ser “sexy”, de modo óbvio e frágil, diga-se de passagem, do que propriamente um thriller de suspense.
Dirigido por Eli Roth, o longa acompanha a história de Evan (Keanu Reeves), um homem bem casado e feliz que, precisando cumprir obrigações profissionais, fica trabalhando sozinho em casa durante um final de semana, enquanto sua esposa e filhos saem em uma viagem de curtição à praia. Em sua primeira noite solitário, duas belas garotas aparecem à sua porta pedindo ajuda. As intenções de Bel (Ana de Armas) e Genesis (Lorenza Izzo), claro, vão muito além das aparências e acabam por virar a vida de Evan de cabeça para baixo.
A insistência do script escrito por Roth, Nicolás Lopez e Guilherme Amoedo em forçar o olhar do espectador de maneira pouco sutil para as suas “pistas” jogadas logo no começo é bastante sintomático no que se refere à sua fragilidade. Assim, com menos de 5 minutos de filme já sabemos que o protagonista não faz sexo com sua mulher há semanas, que seu ombro recém operado lhe incomoda e que ele adora seu cabelo comprido. Evidente que tudo isso e muito mais será utilizado como forma de “tortura” para com Evan quando o enredo realmente mostra a que veio, não causando o impacto e surpresa que deveria dada a falta de requinte do roteiro.
E coloco “tortura”, com aspas, porque em nenhum momento as práticas da dupla feminina chegam realmente a incomodar o espectador como parece incomodar o protagonista. “Parece”, também com aspas, porque, que me perdoem os seus fãs (existem?), mas Keanu Reeves é um ator absurdamente limitado e jamais consegue passar com eficiência as emoções que, supostamente, o seu personagem está sentindo. Algumas tentativas, em especial seu “choro” e gritos com as amarras na boca, chegam até a ser cômicas e causam justamente o efeito oposto.
O diretor Eli Roth ainda tenta criar um ambiente de suspense e tensão ao passear pela casa de Evan com sua câmera inquieta, entrando em um cômodo, saindo de outro, procurando personagens, o que resulta em planos eficientemente claustrofóbicos. Enquanto a trama não decola, tais opções deixam o espectador sempre em estado de alerta, esperando que alguma coisa mais séria e surpreendente possa acontecer a qualquer instante. O que, quando “sobem-se as cortinas”, revela ser uma expectativa vã e até certo ponto boba, dada a falta de habilidade dos realizadores em conduzir o “terror” psicológico que a história propõe.
Ainda há, enterrado nas profundezas do jardim da casa de Evan, um esboço de subtexto interessante sobre as tentações que o homem tem que resistir ante a provocação feminina (podemos realmente culpá-lo por ter traído a mulher?) e até mesmo a pedofilia, mas tudo isso sucumbe quando colocados em prática por um roteiro sem imaginação. Seja utilizado para servir como motivação para as loucuras de Genesis e Bel, ou apenas como forma de dar profundidade e estofo intelectual que estimule o debate ao longa, nenhuma das alternativas parece satisfatória para justificar o que vemos em tela.
Em meio à terra semi arrasada, o que sobra é uma proposta relativamente interessante e que poderia render um bom filme de suspense psicológico, desperdiçada por atores medíocres e um texto fraco e sem criatividade alguma. De terror mesmo, a única coisa que fica são as expressões medonhas de Keanu Reeves tentando transmitir qualquer tipo de sentimento mais complexo.