Desde a virada do século, especialmente depois dos atentados de 11 de setembro e a “Guerra ao Terror” comandada por George W. Bush, o mundo tem se tornado bastante antiamericano. Em vários países há boicotes a produtos, marcas e até personalidades americanas. Outros, mais extremistas, consideram a maior economia do mundo responsável por todo o mal que os acomete (e não se pode dizer que estão de todo errados). Com a intenção de mostrar esse pensamento, pegando carona na onda da Primavera Árabe e eventos revolucionários parecidos, o diretor John Erick Dowdle escreve (com Drew Dowdle) “Horas de Desespero”.

O filme conta a história de Jack (Owen Wilson), chefe da família Dwyer, que precisou se mudar com sua esposa Annie (Lake Bell) e as filhas Lucy (Sterling Jerins) e Beeze (Claire Geare) para um país do sudeste asiático, para trabalhar em uma empresa de tecnologia de recursos hídricos. O que ele não esperava era chegar exatamente na véspera de um golpe de estado que derrubou o governo, aliado dos americanos, espalhando terror pela população, especialmente contra os estrangeiros.

O que se vê a partir do momento que Jack sai de uma feira popular é uma avalanche de espancamentos, torturas, mortes e vários outros tipos de atrocidades por toda a cidade, com a intenção de atacar o suntuoso hotel onde a família Dwyer está hospedada, por conta de tudo aquilo que simboliza.

O roteiro é bem resolvido no sentido de costurar bem as cenas que constroem o filme, mantendo sempre a história em movimento. Mesmo algumas atitudes de personagens, que poderiam parecer improváveis, ou até mesmo impossíveis, tem explicações bastante razoáveis diante da situação devastadora em que se encontram. Apesar disso, há alguns problemas, como a falta de profundidade dos vilões, que parecem fazer maldades pelo prazer puro e simples de seus atos, sem motivações maiores. Outro problema, porém em menor escala, é o aparecimento de um determinado personagem em momentos cruciais sem grandes explicações.

Já no campo das atuações o filme se torna surpreendente. Não por conta de Lake Bell, que sempre demonstrou talento em seus trabalhos dramáticos, ou mesmo por causa de Pierce Brosnan, que sabe usar sua persona de canastrão sexy com maestria. A grande surpresa fica por conta de Owen Wilson. Ele consegue se desvencilhar da imagem de comediante com uma desenvoltura rara em sua filmografia. Ele consegue retratar bem toda a tensão a que é submetido, ao tentar salvar a família e a si mesmo de uma situação tão desesperadora.

Mesmo com alguns defeitos, as qualidades se sobressaem graças ao trabalho do diretor John Erick Dowdle. Ainda que exagere em alguns momentos, com excessos de câmera lenta e planos fechados, ele acerta na construção de todas as cenas. Chama a atenção a forma como ele utiliza vários tipos de enquadramentos para enfatizar a geografia das tomadas, estabelecendo para o espectador todas as saídas e possibilidades para os personagens, constantemente em fuga. Bons exemplos disso são as sequências no hotel e as situações angustiantes no terceiro ato da projeção.  Ele também tem uma criatividade bastante mórbida para as chacinas vistas em tela, ainda que baseadas em vários modelos de morticínios perpetrados por líderes sanguinários pelo mundo.

Apesar de uma visão ligeiramente xenofóbica, “Horas de Desespero” é uma boa mistura de ação, suspense e drama em doses equilibradas, com um resultado bem mais do que satisfatório.