Cinema com Rapadura

OPINIÃO   quarta-feira, 09 de setembro de 2015

A Entidade 2 (2015): um bicho-papão não tão assustador

Ainda que se prove mais do que apenas um caça-níquel, sequência se entrega aos lugares-comum do gênero e não convence.

aentidadeO que tornou “A Entidade” um filme acima da média foi o fato do diretor Scott Derrickson apostar muito mais em uma atmosfera de suspense e tensão constante, construindo um clima realmente aterrorizante pela antecipação do medo, ao invés de se entregar facilmente aos clichês do gênero. Sua continuação, todavia, agora dirigida por Ciaran Foy, ainda que consiga alcançar razoável êxito no que diz respeito ao aproveitamento de alguns bons elementos do seu antecessor, estabelecendo-se como uma sequência orgânica, se firma mais como um filme de terror burocrático, onde os sustos e a ação soam genéricos e fora de tom.

“A Entidade 2” acompanha a história de Courtney (Shannyn Sossamon), a mãe de dois filhos gêmeos, Dylan (Robert Daniel Sloan) e Zach (Dartanian Sloan), que se muda com ambos para uma casa em uma área rural, buscando fugir do ex marido violento, Clint (Lea Coco). Logo, ela descobre que está em um local assombrado por uma antiga maldição e que sua família corre perigo. Para ajudar-lhe em tal empreitada, ela recebe o apoio do ex policial “Fulano de Tal” (James Ransone), conhecido do primeiro filme por ser fã do trabalho e também tentar prestar ajuda ao personagem de Ethan Hawke. Aqui, o agora detetive particular ainda é atormentado pelo que presenciou da família do escritor, acreditando que todos os acontecimentos estão interligados e buscando por um fim à maldição.

A tentativa de se criar a figura do herói clássico através do personagem de James Ransone é algo que soa bastante forçado, uma vez que outra característica que eleva o primeiro filme a um patamar diferenciado é justamente a ausência do justiceiro nobre que tenta, através de motivações cristalinas e bondosas, resolver o caso. Ellison não era mais do que um escritor obcecado que se vê perdido e acuado no meio de tantos acontecimentos estranhos, e seu destino final comprova isso. A sugestão de um romance entre “Fulano de Tal” e Courtney só joga mais água nesse chopp já bastante insosso, bagunçando as reais motivações do ex policial no desenvolvimento da trama.

As tentativas de manter uma ponte com o primeiro filme são percebidas, inclusive, logo no início, quando, por exemplo, o barulho das rodas do carrinho de supermecado de Courtney deslizando pelo chão fazem alusão direta ao som de película rodando no equipamento, o que, por si só, sabendo do conteúdo das fitas, já é algo bastante aterrorizante. Fitas estas que desempenham um papel, aqui, muito mais indireto do que o verificado anteriormente, servindo mais como uma exibição de horrores do que como um quebra-cabeça que será montado no final para causar um impacto surpreendente.

O fim do fator surpresa, aliás, é algo que o texto de Scott Derrickson e C. Robert Cargill (dupla de roteiristas que se manteve inalterada) não soube contornar com eficiência, tendo na previsibilidade de suas definições algo que torna a experiência um tanto quanto maçante. Aqui, os sustos genéricos e pouco orgânicos à narrativa tomam conta, deixando de lado a atmosfera de suspense e tensão tão bem construída em seu predecessor. As crianças, aqui, aparecem a todo momento e, por mais que saibamos que a influência do demônio seja constante, isso acaba não sendo tão assustador quanto um aumento brusco do som e uma aparição repentina em tela. Um bom filme de terror deve causar medo pela história contada, sendo o susto apenas uma consequência natural desta, e não sua causa principal.

A abordagem estética de Ciaran Foy também se mostra menos afiada que a de Derrickson, com cenários mais abertos e claros, tornando a sensação de claustrofobia menos aguda. O silêncio, os corredores fechados e a luz baixa são bem menos aproveitados, o que certamente contribui para um resultado pouco satisfatório no que diz respeito à construção do terror como característica marcante.

Assim, temos uma obra mediana, irregular, e que jamais chega perto da boa qualidade apresentada por seu antecessor, vivendo à sua sombra. Vale um pouco pela continuação orgânica de uma boa premissa, e por um ou outro momento mais inspirado, e nada além de disso.

Arthur Grieser
@arthurgrieserl

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