Um filme com cenas de ação razoavelmente bem executadas, mas incapaz de despertar no espectador qualquer tipo de interesse pelos personagens que as protagonizam.
Costuma-se dizer, entre os fãs de games (grupo do qual não faço parte), que a adaptação de um jogo para as telonas é sempre uma tarefa bastante complicada. A expectativa é sempre muito alta, e a decepção também. Como atribuir uma identidade e independência a uma história que já tem personalidade própria e é completamente interativa? O transporte de uma linguagem para outra, seja de uma peça, de um livro, ou de um jogo, exige sempre certa destreza dos realizadores.
No caso deste “Hitman – Agente 47”, não posso julgá-lo em termos de adaptação primeiro porque nunca usufrui do jogo que deu-lhe origem; segundo porque isso não cabe ao crítico de cinema, que deve restringir-se somente ao produto cinematográfico, sendo este, por sua vez, bastante limitado. É bom lembrar, inclusive, que já houve uma tentativa de transportar o jogo para as telonas; em 2007, chegou aos cinemas “Hitman – Assassino 47”, obra também de qualidade bastante questionável.
Dirigido por Aleksander Bach, aqui o longa acompanha o agente especial (Rupert Friend) geneticamente modificado para ser uma perfeita máquina de matar que atende pelo nome de “47”, número tatuado em sua nuca juntamente com um código de barras. Suas armas mais poderosas são a ousadia, a falta de medo e dor, e a destreza absurda com que desfere seus golpes. Encarregado de destruir uma operação que pretende usar o segredo de sua criação para a formação de um grande exército, ele se une a Katia van Dees (Hannah Ware), uma misteriosa jovem que é muito mais do que aparenta.
O início exageradamente expositivo, onde somos apresentados à basicamente quase todos os indivíduos-chave que irão compor a trama por um narrador que só aparece nessa parte da projeção, em um pobre recurso de linguagem, prejudica a sequência da história e o nosso envolvimento com os personagens. Em meio a tais dificuldades, vamos estruturando tudo aquilo que nos foi jogado nos primeiros minutos por meio de mais diálogos expositivos ao longo do filme, contrariando uma das premissas básicas da linguagem cinematográfica: mostre, não diga.
De todo modo, quando chamado à ação, o longa responde razoavelmente bem, entregando sequências dignas de um bom pipocão hollywoodiano. Bach filma com habilidade e aproveita com eficiência os talentos especiais de seus personagens e as locações onde os confrontos se passam para dar-lhes consistência e fluidez. Destaque para o seguimento na embaixada dos Estados Unidos em Singapura e para as sucessivas batalhas entre o 47 e o vilão John Smith, interpretado por Zachary Quinto em atuação segura e convincente.
Aliás, não podemos culpar o mau desempenho geral da película pelo trabalho de seus atores. Quinto, Ware e Friend oferecem todos composições bastante satisfatórias, e ainda temos o ótimo Ciarán Hinds fazendo uma ponta pequena, mas importante, na metade final. O que falta mesmo é um pouco mais de acidez e personalidade ao texto de Skip Woods, Kyle Ward e Michael Finch, sempre frio e atribuindo pouco carisma aos sujeitos do enredo. Há uma faísca de boa discussão, quando insere-se o tema do determinismo como central para entendermos como funciona o modus operandi dos agentes geneticamente modificados, mas é logo deixada de lado, desperdiçando o que poderia ser uma excelente questão para dar mais profundidade à trama.
Dessa forma, temos uma obra que nos desperta o interesse muito maior pela ação em si, do que pelas pessoas que a protagonizam. Em nenhum instante, chegamos a nos importar, de fato, pelo destino dos personagens que estamos acompanhando, o que confere um erro grave na estrutura da película. Isso tudo é evidenciado por uma péssima construção de relacionamento entre pai e filha, onde toda a carga dramática é depositada e não causa efeito nenhum no espectador quando o clímax chega em tela.
No final, ainda há uma sugestão de gancho para uma continuação, o que, dado o resultado bem abaixo do esperado da presente obra, acredito que dificilmente acontecerá. E se acontecer, que seja melhor do que esta.