Mais uma da série "comédias televisivas" que saem todos os anos, corroborando a visão caricata e errônea que muitas pessoas têm do cinema brasileiro.
A figura do crítico de cinema é, muitas vezes, vista como uma pessoa que vive de falar mal das coisas. Nada mais falso. O que mais deixa o profissional da área triste é justamente assistir a uma obra ruim, e ter de tirar leite de pedra para escrever algo sobre esta. No caso brasileiro, há um agravante: o cinema nacional é, também, mal recebido pelo grande público, que considera as comédias enlatadas que entram no circuito a doses industriais todos os anos como o nosso padrão médio de qualidade, quando, na verdade, existem muitos (muitos mesmo) trabalhos interessantes que não entram nesse jogo comercial por uma série de motivos que não cabe aqui discuti-los.
Assim, falar mal de um filme nacional, indiretamente, mesmo que de maneira forçada, contribui para a disseminação deste estereotipo errôneo que as pessoas têm do nosso cinema. Se falar mal de qualquer filme já é frustrante, quando este é brasileiro, então, a situação fica ainda mais desconfortável. Ossos do ofício. Entretanto, é aquela história: obra fraca e ambições pequenas, considerações também pequenas, independente de sua nacionalidade.
Dirigido por Cris D’Amato, “Linda de Morrer” acompanha a história de Paula (Glória Pires), uma famosa cirurgiã plástica que, supostamente, acabara de criar a cura para a celulite, através de um medicamento que passa a ser comercializado, o Milagra. Em um evento festivo em sua casa, Paula, já tendo feito uso do remédio, tem um súbito ataque nervoso que a leva à morte. Seu espírito, todavia, acaba ficando preso na terra, fazendo com que a socialite resolva suas últimas pendências terrenas; com a filha Alice (Antônia Morais), com quem mantém uma relação distante, com seus sócios picaretas e, claro, com o objetivo principal de impedir que o Milagra continue a ser vendido. Para tanto, ela terá ajuda do psicólogo Daniel (Emílio Dantas), que herdou o dom da mediunidade da avó (Susana Vieira), e fará a ligação entre o “mundo espiritual” e o terrestre.
Em primeiro lugar, há um grande erro conceitual que precede todos os outros que virão em seguida, e, muitas vezes, em decorrência deste. O argumento do filme, acredito, seria muito melhor desenvolvido caso fosse tratado como um drama de fantasia do que como uma comédia; a trama é pesada demais para se tentar fazer algo cômico de tal situação. O tema fitness, da busca pelo corpo perfeito, da estética pela estética, é algo bem atual e interessante, que poderia ser discutido de maneira muito mais profunda do que de fato foi. A opção pela comédia põe toda essa carga por água abaixo, ainda mais quando a comicidade também é de péssimo gosto, fazendo com que a proposta realmente desabe de forma colossal.
Os personagens principais são caricatos e desenvolvidos de maneira extremamente pedestre, de modo que o nosso envolvimento com seus dramas acaba sendo prejudicado. Mesmo atrizes experientes como Glória Pires e Susana Vieira parecem estar trabalhando no piloto automático, não acrescentando nada de muito interessante ao enredo, talvez até pela fragilidade do texto de Carolina Castro, Jô Abdu e Marcelo Saback. Isso para não falar dos secundários, que pouco fazem sentido dentro da trama e são utilizados apenas para fazer figuração cômica como pano de fundo.
A direção de Cris D’Amato, por sua vez, é muito presa à linguagem televisiva, isto é, foco nos indivíduos e pouquíssima informação em tela para não “distrair” o espectador, desperdiçando aquilo que o cinema tem de melhor: apresentar uma narrativa que vai muito além daquilo que se apreende superficialmente pelos diálogos, por meio da direção de arte, da fotografia, figurino, trilha sonora, etc.
Com tantos defeitos, não sobra muito a não ser uma mensagem de autoajuda clichê e passada para o público de forma que beira o constrangedor. Uma pena, portanto, que o nosso cinema seja taxado de medíocre por obras como essa, que nivelam por baixo o nosso padrão de qualidade comercial. Pensando por esse lado, será que realmente dá para culpar o grande público por pensar dessa maneira?