Humor rasteiro e ação sem sentido dão o tom de uma obra onde quase nada se salva.
Em tese, a ideia por trás deste “Belas e Perseguidas” era bastante clara: pegar duas atrizes com perfis completamente diferentes, desde o sotaque e modo de falar até a aparência física, e botá-las em situações estapafúrdias, fazendo um filme de ação/comédia meio non-sense. Um argumento arriscado, que se apoia basicamente no carisma de Sofia Vergara e Reese Witherspoon, mas que poderia funcionar se o roteiro de David Feeney e John Quaintance acertasse a mão em pelo menos uma das facetas propostas, ação ou comédia. A verdade é que as chances de errado eram consideráveis… e foi o que aconteceu.
A aposta em um tipo de humor físico bastante exagerado, recheado de piadas eróticas e machistas que exploram a beleza e sensualidade de suas protagonistas – como o próprio título já entrega, tanto o traduzido quanto o original (“Hot Pursuit”) – se provam de extremo mal gosto, e a ação passa longe de ser eficiente o suficiente para salvar o que dá errado nesta outra face da obra. A subtrama dramática de vingança familiar, em especial, colocada como forma de dar substância a um conteúdo puramente despretensioso, é trabalhada de forma absolutamente rasteira e beira o constrangedor.
Dirigido por Anne Fletcher, o longa acompanha a jornada da policial Cooper (Witherspoon), um ferrenha defensora da lei e da honra, porém deveras atrapalhada, tentando proteger a viúva de uma pessoa ligada ao tráfico, Daniella Riva (Vergara), um mulherão de caráter e intenções duvidosas. Com personalidades completamente opostas, portanto, ambas têm de atravessar o Texas fugindo de policiais corruptos e bandidos do cartel a fim de prestar um depoimento revelador à polícia do Estado, que poderá levar um dos grandes chefões da máfia à prisão.
Witherspoon já foi uma das grandes “queridinhas da América”, e, por mais que atualmente não seja mais o foco das atenções, possui, além de muito carisma, uma carreira sólida e estável, como a recente indicação ao Oscar não me deixa apontar o contrário. Vergara, por sua vez, com seu sotaque latino absurdamente carregado, é carisma puro; sua participação na série cômica de sucesso “Modern Family” já a credencia o suficiente para poder segurar uma obra de tal temática com competência. Assim, o fato da união das duas não resultar em praticamente nada de interessante, tanto pelo lado da ação, quanto pelo lado da comédia, só denuncia a fragilidade do texto da dupla de roteiristas.
Costuma-se dizer, entre os cinéfilos, que roteiro bom pode salvar uma direção ruim, mas jamais (ou quase nunca) o contrário. Neste sentido, não me surpreende que a diretoria Anne Fletcher, que vem de trabalhos razoáveis nos últimos anos (“Minha Mãe é uma Viagem”, “A Proposta” e – por que não? – “Vestida Para Casar”), não tenha conseguido amenizar o estrago proporcionado pela falta de tato e criatividade de Feeney e Quaintance. Não que sua capacidade como condutora máxima de um filme seja qualquer coisa de extraordinária, mas já resultaram em trabalhos pelo menos medianos e dignos, o que já é bem acima deste aqui discutido.
Entre um tropeço e outro, algumas gags funcionam quase que de maneira isolada, sem dialogar com o contexto à sua volta, mas impedindo que o longa desabe em um abismo completo de ruindade. Muito pouco, para algo que tinha potencial para, se não uma obra-prima, ser pelo menos algo divertisse de modo razoável e despretensioso. Passou longe.