Adaptação televisiva é mais um produto comercial que um trabalho artístico
No ano de 2013, chegou às telas dos cinemas a adaptação do seriado “Meu Passado Me Condena”. Devido ao grande sucesso nas bilheterias (ainda que com um resultado artístico bem menos que medíocre), dois anos depois, o casal Fábio (Fábio Porchat) e Miá (Miá Mello) está de volta, para mais um episódio esticado a exaustão, com o intuito exclusivo de uma boa arrecadação em época de férias escolares.
O filme é praticamente uma releitura do primeiro longa, com alterações suaves para disfarçar a falta de criatividade na construção da narrativa. Agora, ao invés de um cruzeiro de Lua de Mel, o casal viaja a uma cidade Portugal para o funeral da avó de Fábio, em meio a uma pesada crise conjugal.
Os longuíssimos cento e cinco minutos de projeção são apenas um amontoado de clichês em profusão. Temos Álvaro (Ricardo Pereira), o “inimigo” de infância de Fábio, que tem um profundo ciúme da relação familiar do rapaz com o próprio avô (!) e que, obviamente, é noivo de Ritinha (Mafalda Rodiles), a namoradinha de infância que cresceu e se tornou uma bela mulher, que ainda nutre sentimentos fortes por ele. Ainda há espaço para o casal de trambiqueiros Suzana (Inez Vianna) e Wilson (Marcelo Valle) que hoje têm uma agência funerária em Portugal, apenas para aplicar pequenos golpes nos velhinhos do local.
O roteiro de Patrícia Corso tem a profundidade de um pires. Os conflitos que fazem, ou melhor, deveriam fazer, a história andar são incrivelmente insossos e desinteressantes, uma vez que nenhum dos personagens tem um resquício de construção que justifique qualquer daquelas ações, ou mesmo desperte alguma empatia do espectador. Se no episódio anterior Fábio Porchat conseguia emprestar seu gigantesco carisma para salvar algo, aqui nem isso ocorre.
Algo que enfatiza a fragilidade do script é a necessidade doentia que todos os personagens têm de descrever cada característica, positiva ou negativa, de seus interlocutores, como se duvidassem que o público tenha a capacidade de compreender aquelas pessoas. Por conta disso há dezenas de diálogos expositivos do tipo “Como você é machista”, ou “Eu não gosto de mulher que age assim” ou “O fulano é assim, desastrado, imaturo, medroso”.
Curiosamente, os poucos momentos em que é possível dar alguma risada são aqueles em que os atores, principalmente Porchat, parecem livres para trabalhar com o que tem de melhor, o improviso. Até mesmo o veteraníssimo comediante Antônio Pedro parece engessado com o fraco material que tem nas mãos.
Porém, o roteiro não é o único (ir)responsável pela pouca qualidade que vemos em tela. A direção de Júlia Rezende parece preguiçosa e descompromissada, uma vez que não há o menor esforço em amarrar as “subtramas” (se é que é possível chamar assim). As atitudes dos personagens, em vez de fazerem parte da trama e surgirem como consequência de suas experiências, ocorrem apenas para pontuar as viradas estritamente necessárias.
Infelizmente, não foi dessa vez que o cinema nacional foi brindado com uma comédia realmente engraçada e de bom gosto. Muito pelo contrário. “Meu passado me condena 2” é apenas mais um repetitivo enlatado de televisão.