Cinema com Rapadura

OPINIÃO   segunda-feira, 08 de junho de 2015

A Espiã Que Sabia de Menos (2015): paródia sem sal de filmes de espionagem

Melissa McCarthy precisa entender que apenas falar palavrões não fazem uma comédia.

Melissa McCarthy e o diretor Paul Feig vêm consolidando uma parceria bastante produtiva. Depois de “Missão Madrinha de Casamento” e “As Bem Armadas”, eles agora se juntam para mais uma comédia, “A Espiã que Sabia de Menos” (aparentemente, eles também tem a sina de ter os nomes de seus filmes adaptados de forma cada vez mais bizarra).

Dessa vez, a história gira em torno de Susan Cooper (Melissa McCarthy), uma tímida agente da CIA que faz dupla com o charmoso Bradley Fine (Jude Law). Enquanto Bradley é um agente de campo, atuando em missões secretas e perigosas, Susan monitora seus movimentos remotamente, provendo informações importantes, como inimigos se aproximando ou rotas de fuga.

No entanto, depois que uma missão fracassa, ela e sua amiga Nancy (Miranda Hart) são escolhidas por sua chefe Elaine (Allison Janney) para rastrear o paradeiro de Rayna Boyanov (Rose Byrne), uma famosa terrorista búlgara que está prestes a negociar uma ogiva nuclear com Sergio De Luca (Bobby Cannavalle), um famoso terrorista italiano. O recrutamento da dupla para uma missão desse porte irrita Rick Ford (Jason Statham), um desbocado agente, que queria a missão para si. Para cumprir os objetivos, Susan precisa usar vários disfarces, em sua maioria, ridículos e passar por várias capitais europeias, como Budapeste, Paris e Roma.

O filme é facilmente dividido em duas partes: Enquanto está trabalhando apenas na agência, Susan tem uma personalidade retraída, quase recatada, intimidada pelos superiores e por outros agentes mais influentes, como forma de disfarçar seus sentimentos por seu parceiro. Contudo, depois que se torna uma agente de campo, ela parece se transformar em outra pessoa. Apesar de citar em alguns momentos que teve treinamento para tal, ela, de uma hora para outra, passa a ser uma mestre em artes marciais, capaz de enfrentar vários homens armados simultaneamente. Além disso, torna-se uma atleta de primeira categoria, apesar de estar visivelmente muito acima de seu peso atlético, sendo capaz de perseguir em corrida a pé vários inimigos e passa a ter um vocabulário mais sujo que aquele presente em arquibancadas de futebol.

Não que o fato de falar palavrões em profusão seja algo problemático, desde que seja justificado dentro do universo que está sendo contado, ou que tenha alguma sustentação no desenvolvimento dos personagens. Infelizmente, não é o que ocorre aqui. Além de uma falha muleta narrativa, que tenta transformar os xingamentos em gags por si, esse artifício demonstra um problema individual da protagonista da fita: Aparentemente, Melissa McCarthy, ou os diretores com quem trabalhou, acredita que o único papel que ela consegue representar é de uma mulher grosseira com um imenso arsenal de xingamentos ou ter seus seios apalpados por pelo menos um terço do elenco masculino. Algumas dessas ferramentas até funcionam, especialmente a ameaça de transformar um homem em um tipo peculiar de unicórnio, ou o agente italiano com atração por mulheres mais “volumosas, mas em sua maioria apenas disfarçam a falta de conteúdo realmente engraçado. O mesmo se aplica à atuação de Rose Byrne, que alterna seus xingamentos com suas opiniões esnobes sobre Susan. Jason Statham é o único que consegue extrair algo da pobreza do roteiro e casa sua forte presença física com um surpreendente timing cômico.

Já Paul Feig conduz a história com todos os elementos esperados para uma paródia de filmes de espionagem: deslumbrantes paisagens europeias, perseguições em veículos de alta velocidade, lutas corpo a corpo, com destaque para a bem coreografada luta na cozinha de um restaurante, traições e reviravoltas com pretensões surpreendentes. E nesse aspecto, ele acerta em quase tudo, deixando a desejar apenas no quesito dos plot twists. Infelizmente, apenas acertar em caricaturas, sem preocupação com o desenvolvimento, não transformam uma produção em um bom filme, apenas em um passatempo esquecível.

David Arrais
@davidarrais

Compartilhe