Epílogo cinematográfico para a série baseada no mangá de Masashi Kishimoto não funciona como filme, mas dá uma conclusão aos fãs do longo anime.
Se você não acompanhou as séries “Naruto” e sua segunda fase, “Naruto Shippuden”, com certeza este “The Last – Naruto: O Filme” não é para você. Aliás, mesmo se você estiver assistido todos os episódios da série na Netflix, principal canal oficial de exibição desta no Brasil, você pode ter problemas com o longa. Isso porque ele é um epílogo para a saga do (agora não tão) jovem ninja, estando em um ponto cronológico bem distante do último episódio disponível por aqui (de maneira legal, é claro).
E esse é o principal problema da produção, dirigida por Tsuneo Kobaiyashi. Não se trata de uma aventura isolada de Naruto e seus amigos como os diversos outros longas derivados da série, mas de um ponto final de uma história que se desenrola desde 1999. É como se o seu seriado de televisão favorito resolvesse acabar em um filme para o cinema ao invés de ter um último capítulo.
Quem não conhece nada daquele universo vai se sentir absolutamente perdido na narrativa, pois ela foi feita para ser uma conclusão, não um ponto de entrada. O mais perto disso que a fita chega é através de alguns flashbacks, que servem mais para alimentar a nostalgia dos já iniciados do que dar algum backstory aos novatos.
O roteiro é focado no relacionamento entre Naruto e Hinata, que já vinha em um vai-não-vai desde as primeiras temporadas da série. Sim, há toda uma crise com a lua ameaçando colidir com a Terra, graças às maquinações do insano Toneri, que também sequestra a irmã de Hinata, Hanabi, com esta última reduzida basicamente a um MacGuffin a ser perseguido por Naruto, Hinata e os outros ninjas da Aldeia da Folha.
Mas toda essa trama é apenas um pano de fundo exageradamente elaborado para justificar as aparições dos demais personagens da série (geralmente curtas e sem muita cerimônia) e para que ocorram lutas e batalhas enquanto o casal principal se resolve. Quem for esperando batalhas elaboradas e lutas insanas com jutsus mais loucos ainda vai encontrar isso, mas em uma dose bem menor do que o esperado, justamente porque o filme não gira em torno disso.
Logo de cara, já vemos que o próprio Naruto já não tem mais muito espaço para crescer. Com exceção de sua ignorância para com os seus sentimentos em relação à Hinata, o ninja loiro já está maduro e deveras seguro de si, sendo considerado o maior herói da Aldeia da Folha por conta de seu papel na Quarta Grande Guerra Ninja, bem longe do moleque esquentado que queria provar para o mundo o seu potencial.
Boa parte da projeção é focada em Hinata e seu medo de expor seu coração ao amado, tornando ela mais importante para o andamento do filme que o próprio personagem-título. A questão aqui é que é difícil se importar com os conflitos desses amantes desafortunados se os encontramos já no final de suas jornadas. O antagonista Toneri nem de longe tem o carisma que vilões como Orochimaru exalavam na série, além de chegar dotado de uma motivação pateticamente rala que combina muito bem com seu plano, que não faz sentido algum.
Certamente alguns fãs vão reclamar da falta de atenção a outros personagens queridos da franquia. Sakura e Sasuke, cujo relacionamento tumultuado foi um dos plots principais da saga, sequer dividem a tela juntos e figuras como Rock Lee e Gaara foram reduzidos a pontas glorificadas, surgindo mais pelo fanservice que para executar alguma função na trama (Kakashi ao menos tem algo a fazer em cena, por menor que seja sua participação).
Na maior parte do tempo, temos uma animação fluida e bem detalhada, sempre com as cores fortes e vibrantes, algo que é marca da franquia em sua modalidade audiovisual. No entanto, o prazo curto para a conclusão do filme pode ser visto em algumas poucas tomadas mal-acabadas e pouco animadas.
Com relação à dublagem nacional, esta foi feita de maneira competente, mantendo as mesmas vozes das séries e sem nenhuma celebridade atrapalhando o trabalho dos profissionais.
Ao menos os fãs de Naruto podem se alegrar pelo seu herói ter tido um final condizente com sua natureza alegre (embora um tanto Manuel Carlos pro meu gosto), ao contrário de um certo samurai andarilho que teve uma conclusão excessivamente melancólica em sua jornada, que não combinou em nada com sua série. Mas aí já é outra história…