Sem saber se homenageiam o original ou se imprimem suas assinaturas pessoais neste remake, Sam Raimi e Gil Kenan entregam um filme fraco e sem norte.
O “Poltergeist – O Fenômeno” original, lançado em 1982, marcou época graças ao roteiro inspirado de Steven Spielberg e direção competente de seu parceiro na empreitada, Tobe Hooper (“O Massacre da Serra Elétrica”). Existia uma urgência naquele longa que, aliada à trágica morte precoce de sua estrela mirim Heather O’Rourke (que faleceu após estrelar duas fracas continuações daquela fita), o alçou à condição de clássico maldito do gênero.
Trinta e três anos depois chega às telas este remake homônimo, com Sam Raimi (“Homem-Aranha”) no lugar de Spielberg e Gil Kenan (da subestimada animação “A Casa Monstro”) substituindo Hooper na direção. Por mais que sejam dois profissionais extremamente talentosos, especialmente Raimi, que é um cineasta quase tão querido quanto o próprio Steven Spielberg, algo deu errado nesta refilmagem.
A trama é basicamente a mesma, com uma família que recém se mudou para uma casa no subúrbio descobrindo que o imóvel é assolado por forças sobrenaturais e tendo de resgatar a caçula, sequestrada por fantasmas vindos de um antigo cemitério sob o qual a casa fora construída.
A grande diferença entre o original e este remake jaz justamente nos estilos de trabalho das duplas. Com os produtores do remake presos entre colocar o seu próprio toque autoral no filme e homenagear o clássico no qual este é baseado, o remake ficou em uma espécie de limbo por não saber exatamente que tipo de produção realmente é.
Spielberg e Hooper levavam o texto a sério, criando uma aura de terror crescente que englobava a projeção inteira, mixando a inocência infantil com um clima de tensão, uma das marcas registradas de Spielberg. Já Raimi e Kenan tem um retrospecto de, por falta de termo melhor, “terrir”, acrescentando toques constantes de comédia no decorrer da projeção (até mesmo no terceiro ato) que minam qualquer tipo de tentativa de seriedade do projeto, especialmente quando surgem os especialistas em parapsicologia na trama, que se convertem em heróis trash típicos dos trabalhos de Raimi.
Isoladamente, esses estilos de produção funcionam muito bem, mas são incompatíveis dentro de uma só obra. Nisso, vemos ótimos atores como Sam Rockwell e Rosemarie DeWitt (que fazem os patriarcas da família assombrada) e Jared Harris (como o caçador de fantasmas no melhor estilo da série de TV “Ghost Hunters”) absolutamente perdidos na tela, com performances que alternam tons sérios e cômicos de maneira quase que aleatória.
Tanto os produtores quanto o roteiro aparentemente não sabiam qual direção seguir. Nisso, Raimi e Kenan, que vinham de bons filmes como o novo “A Morte do Demônio” e o interessante “Cidade das Sombras”, se sabotam, tentando emular uma estilização cinematográfica que foge de suas próprias assinaturas fílmicas, deixando o espectador tão confuso quanto os personagens (e atores) sobre o que está acontecendo, causando momentos de risos em cenas inadequadas, matando qualquer tipo de tensão que as sequências mais intensas poderiam gerar.
O resultado, obviamente, beira o desastroso, desperdiçando boas ideias e uma competente direção de arte em um longa forçado e que só encontra virtudes graças ao carisma dos membros veteranos do elenco, especialmente Rockwell e Harris. O que torna um remake eficiente é ver cineastas oferecendo suas próprias visões de histórias conhecidas, algo que só vemos de relance neste “Poltergeist – O Fenômeno”. Chega a ser irônico que o apego excessivo de Raimi e Kenan ao original tenha matado este filme.