Um longa contido, competente e que, acima de tudo, transmite de maneira universal suas ideias.
Hibrido do curta-metragem “Décimo Segundo” (2007), que também foi protagonizado pela dupla Irandhir Santos e Rita Carelli, “Permanência”, primeiro longa-metragem do pernambucano Leonardo Lacca, fala sobre o ir e voltar, da não estabilidade emocional e do banal, colocados numa situação que geralmente costuma deixar cicatrizes.
É assim o personagem Ivo (Santos), um fotógrafo do nordeste que vai a São Paulo para realizar sua primeira exposição solo. Lá, se hospeda na casa Rita (Carelli), uma ex-namorada que agora está casada. No primeiro encontro percebemos o desconcerto, destacado por alguns sorrisos amarelos e closes indutivos. Com o tempo o clima vai se tornando cada vez mais delicado, a tensão sexual aumenta e ambos parecem novamente apaixonados, afetando, dessa maneira, o casamento de Rita e dando rumos diferentes as ideias profissionais do sujeito.
Ainda que tenha poucos diálogos representativos e apostando em gags cômicas que nem sempre funcionam, o filme fala muito por meio de gestos e olhares. Lacca consegue imprimir a angustia, conflito e solidão interna de seus personagens através de câmeras estáticas e frios tons fotográficos. A narrativa tem um ritmo lento e caminha junto à passagem do protagonista pela nova cidade, um tanto difusa e complexa para ele.
Apesar de acompanharmos Ivo durante toda sua jornada, pouco sabemos dele, menos ainda das demais figuras que o rodeiam, podendo dessa forma excluir o processo de identificação e não captar alguns espectadores. No entanto, entende-se que essa proposta se dar pela intenção de Lacca em querer apenas tratar daquele momento que pode ser visto como banal, e é algo vivido por muitos, quando alguém chega e se vai, o conceito da instabilidade, onde tudo permanece inalterável.
Tanto Irandhir quanto Carelli desempenham bem suas funções e conferem atuações críveis, sendo fundamentais para que o longa funcione. A fita também lembra alguns trabalhos do cineasta paulista Beto Brant (“Eu Receberia as Piores Notícias dos Seus Lindos Lábios“), pela atmosfera gélida e ambiguidade latente. Em suma, Permanência não é uma obra esplendida que quer se mostrar, é contida, competente e, acima de tudo, transmite de maneira universal suas ideias.