Cinema com Rapadura

OPINIÃO   sábado, 09 de maio de 2015

Entre Abelhas (2015): filme nacional fala de forma competente sobre depressão

Envolto a uma casca de humor, o longa de Fabio Porchat e Ian SBF traz um novo fôlego para os cinemas brasileiros.

“Entre Abelhas”, filme estrelado por Fabio Porchat e dirigido por Ian SBF (ambos criadores do Porta dos Fundos), chegou aos cinemas como um novo fôlego para o cinema nacional. Quem reclama que o “cinema nacional comercial“ acaba sempre caindo na mesmice, com seus excessos de comédias pastelões e de extremo mau gosto, vai se surpreender. Eu, particularmente, odeio esse tipo de filme e até meio que desisti de assistir filmes nacionais no cinema por causa da má qualidade dos produtos. Poucos escapam perante a tanta mediocridade, porque parecem ser feitos em um fim de semana no Projac.

E foi aí que “Entre Abelhas” se diferenciou. Ele é uma comédia dramática que sabe transitar muito bem pela linha fina que separa o humor do drama. Chaplin já dizia: “Creio no riso e nas lágrimas como antídotos contra o ódio e o terror”. Não que o filme do Porchat vá te levar as lágrimas, mas ele te deixa bastante reflexivo.

Na história, Bruno (Fábio Porchat), um editor de imagens recém-separado da mulher (Giovanna Lancellotti), começa a deixar de ver as pessoas. Ele tropeça no ar, esbarra no que não vê, até perceber que as pessoas ao seu redor estão ficando invisíveis. Com a ajuda da mãe (Irene Ravache) e do melhor amigo (Marcos Veras), ele tentará descobrir o que se passa em sua vida.

O filme é poderoso. Ele fala sobre depressão sem falar sobre depressão. A partir do momento que Bruno passa a deixar de enxergar as pessoas, é uma metáfora para um dos principais sintomas da doença: a exclusão. Depressão não é só se sentir triste. É uma doença perigosa e que precisa ser tratada. Pessoas com depressão fazem mal a si e aos próximos. Depressão não é frescura. Nos tempos de hoje, com todo mundo conectado, é muito mais fácil se sentir sozinho. “Um dia passa”, “o tempo vai curar”, “deixa isso para lá” não acrescentam em nada e, dependendo da situação, podem até ser prejudiciais. Sei que as vezes queremos ajudar, mas acabamos nem sabendo como fazer. Incentivar a procura por um profissional é o melhor que você pode fazer. E sabe o que é pior? Qualquer pessoa pode ter depressão.

Fabio Porchat, que já é reconhecidamente um ótimo comediante na TV e internet, demonstra uma outra faceta na sua atuação. No começo você não consegue levar a sério o “drama”, afinal a cara do Porchat está marcada com a comédia. Tudo isso por causa do excesso de produções que o ator apareceu nos últimos anos. Parece que do dia pra noite descobriram o ator e decidiram colocar ele em todas as produções possíveis na TV, cinema, comerciais e etc. Querendo ou não, uma hora cansa a imagem. Com isso vem a rejeição. Esse “Entre Abelhas” é muito importante para demonstrar um outro alcance do ator e até renovar as energias para futuros projetos.

Já o diretor Ian SBF prova aqui que sabe o que está fazendo. Alguns planos do filme são bastante inventivos, como quando ele quer fazer as passagens de tempo. O longa pode parecer curto, mas tudo é bem pensado. O roteiro, feito por SBF e Porchat, é muito inteligente. Mescla humor, com as situações da mãe de Bruno vivida por Irene Ravache e o personagem de Luis Lobianco, mas não esquece a linha principal do filme: o drama. Apesar de que o drama seja bem aliviado, fazendo com que seja fácil para todos os públicos assistirem, mas a mensagem está toda lá. O mérito disso está no roteiro. Parabéns para a dupla.

“Entre Abelhas” é importante para mostrar que outros gêneros podem e devem chegar aos cinemas, mas principalmente por mostrar que “essa turma da internet” sabe fazer as coisas. Pode não parecer, em meio a tanta coisa ruim que é feita por aí, mas o cinema nacional é muito além daqueles filmes cabeçudos que chegam aos festivais de cinema. Recomendado.

Jurandir Filho
@jurandirfilho

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