Cinema com Rapadura

OPINIÃO   domingo, 29 de março de 2015

O Garoto da Casa Ao Lado (2015): nada que se aproveite

Rob Cohen conduz uma trama batida sem um pingo de inspiração

Rob Cohen possui uma carreira longeva como diretor. Atuando desde o início dos anos oitenta, atingiu seu ápice de popularidade entre meados dos anos noventa e início dos anos 2000, quando emplacou vários sucessos de ação, como “Triplo X” e o início da mais do que bem sucedida franquia “Velozes & Furiosos”. No entanto, de lá pra cá viu seus trabalhos como diretor se tornarem cada vez mais raros, com qualidade cada vez mais duvidosa. Junte isso a uma atriz especializada em comédias românticas em um filme fora da zona de conforto dos dois e o resultado será, no mínimo, duvidoso.

Em “O Garoto da Casa Ao Lado”, Claire (Jennifer Lopez) é uma jovem senhora, recém-separada de Garret (John Corbett), mãe de Kevin (Ian Nelson), um rapaz de dezesseis anos, que está tendo dificuldades em lidar com essa relação. Entre um conselho e outro de sua amiga Vicky (Kristin Chenoweth), surge Noah (Ryan Guzman), um jovem forte e prestativo, sobrinho de um vizinho idoso.

É incrível como no desenrolar da trama não há o menor espaço para um desenvolvimento de personagem minimamente criativo. Kevin é um adolescente inseguro, apaixonado pela menina bonita da escola. Garrett é um ex-marido que traía a esposa com a secretária quando viajava “a negócios”. Vicky é uma solteirona que busca a todo custo um parceiro para suas noites solitárias. Porém, nada é mais raso do que o casal que protagoniza a fita. Claire é uma professora escolar em dúvida se deve ou não voltar para o marido infiel, que se vê atraída por um rapaz mais de vinte anos mais novo. Essa rapaz surge como alguém que poderá suprir suas carências, uma vez que surge em tela (anunciado por seu poderoso bíceps contraído dentro de uma camiseta justa), oferecendo ajuda para consertar um portão que está com defeito.

E esse emaranhado de clichês não estaria completo, obviamente, sem uma trama tão profunda quanto o volume morto do reservatório da Cantareira: depois de uma tentativa de criar alguma tensão sexual entre o casal (que não funciona em momento algum), o roteiro cria um conflito ridículo em um encontro duplo para que Claire passe a noite com Noah. É curioso que, mesmo depois de passar tanto tempo tentando convencer o espectador que algo poderia ocorrer entre os dois, a “consumação” desse envolvimento é mostrada apenas com Claire acordando, perturbada, na cama do rapaz. Porém, o script de Barbara Curry reservava mais uma reviravolta: na verdade, Noah não é nem um pouco o bonzinho que aparentava. Ele se torna obcecado por Claire, e começa a cercá-la de todas as formas, influenciando negativamente no comportamento de Kevin dentro da família e perseguindo a professora dentro e fora da escola, até mesmo em suas aulas.

Mesmo que não seja um primor, nos aspectos técnicos, o filme é bastante correto. O mesmo pode-se dizer da direção, sem invencionices ou grandes arrojos de enquadramento ou composição de cenas. Ainda que se trate de um diretor experiente, a sensação que fica é que Rob Cohen estava apenas cumprindo tabela, realizando uma tarefa comum, sem grandes ambições.

David Arrais
@davidarrais

Compartilhe