Em mais um papel tocante, Jessica Chastain vive uma personagem que sofre com a dor da perda e parece não se achar. Seu sentimento é transmitido de maneira intimista.
Este independente longa norte-americano, “The Disappearance of Eleanor Rigby” (no original), foi inicialmente lançado em 2013, de forma um tanto atípica. O cineasta Ned Benson, que só tinha no currículo alguns curtas, decidiu contar o seu texto através de dois pontos de vista, chamados de “Him” (ele) e “Her” (ela). Para cada um, Benson realizou uma versão distinta, onde, no caso explanado que envolve um matrimonio, vemos a perspectiva do homem e da mulher. No entanto, a cópia que chega agora ao Brasil é, na verdade, uma terceira variante, que leva a alcunha de “Them” (eles), uma visão geral do evento. Ou seja, no cinema, não veremos a fita como se deve.
Acompanhamos aqui o estado emocional do casal Eleanor Rigby (Jessica Chastain) e Conor Ludlow (James McAvoy), que devido a um trágico acontecimento tiveram a vida e relação completamente abaladas. Contado por uma ótica não linear, o filme vai despontando a rotina de ambos e exibindo as duras batalhas que travam diariamente – ela, em crise depressiva e existencial, buscando interesse pela vida; ele, tentando reencontrar o amor e querendo entender o que de fato aconteceu. Bem como o espectador, que, até o fim do segundo ato, desconhece o principal fator da ocasião. Alguns momentos até nos remetem ao excepcional “Alabama Monroe” (2012).
Livremente inspirado na canção dos Beatles, Eleanor Rigby, que fala sobre notar a vida das pessoas solitárias, já que pouca gente dá atenção a estes, a Eleanor do conto é um desses espécimes que vagam ermos por aí. Sofrendo pela dor da perda e apresentando um comportamento suicida, ela parece ter perdido o gosto pelas coisas mundanas ou mesmo pessoas.
O diretor é perspicaz por empreender tomadas intimistas, através dos pensamentos da personagem, brilhantemente interpretada por Chastain, que confere uma atuação delicada e empresta sua sutileza, dando veracidade à figura. Do mesmo modo, McAvoy tenta se igualar a atriz, imprimindo a imagem de um sujeito que parece cansado daquilo tudo, mas que a todo tempo procura amparar e ser amparado. Viola Davis também ganha destaque por dar um peso enorme a sabia professora Friedman. O casting conta ainda com as ótimas presenças de Isabelle Huppert e William Hurt, que há algum tempo não dava as caras.
Em contrapartida, é correto referir que o longa tem um ritmo desacelerado, uma vez que, preocupado em destacar os conflitos vividos por Eleanor, Ned Benson gasta muito tempo de tela em cenas isoladas com a personagem, esquecendo um pouco o andamento da trama. Dessa maneira, o espectador pode ser tirado daquele universo e perder o interesse pelo caminhar da história. Por outro lado, talvez Rigby não chamasse tanta atenção, não fosse assim aprofundada e desenvolvida. E isso é justificável, pois o grande ponto dramático do título está nela, que consegue segurar a obra até o fim.
A fotografia de Christopher Blauvelt, apesar de ter lentes mais claras, dá um tom opaco e até meio fúnebre. Já que, depois da cena inicial, o design de produção oferece também poucas cores aos cenários internos e externos, tornando toda atmosfera mais densa e contemplativa. Son Lux engendra uma trilha sonora leve que é fundamental para as cenas solos de Jessica Chastain funcionarem organicamente. E de um modo geral, mesmo possuindo andamentos mais arrastados, é fato que o filme consegue fisgar o público por sua pegada reflexiva.