Mesmo narrativamente esquemático, o filme aborda com pujança o Mal de Alzheimer e conta com a interpretação incrível de Julianne Moore.
Julianne Moore tem um dos currículos mais invejáveis de uma atriz norte-americana de cinema em atividade, possui papéis marcantes que emocionam pela veracidade e força transmitida. A interprete coleciona grandes passagens, que vão desde sua base artística com “Short Cuts – Cenas da Vida” (1993), “Boogie Nights – Prazer sem Limites” (1997) e “Magnólia” (1999) aos mais recentes “Minhas Mães e Meu Pai” (2010), “Virada no jogo” (2013) e “Mapa para as Estrelas” (2014). Onde pelos títulos foi indicada e venceu diversas premiações.
Sua vida pessoal também é apreciável: casada há mais de vinte anos com o cineasta Bart Freundlich (“O Mito das Digitais“), com quem teve dois filhos, é escritora de contos infantis, embaixadora na União Europeia da organização Save the Children (instituição que alfabetiza crianças de famílias rurais) e faz parte do Reach Out and Read (órgão dedicado a alertar os pais sobre a importância da leitura para os filhos). Ofícios que exigem bastante dedicação.
Uma mulher multifacetada que está sempre em busca da superação, como agora, quando ganhou o Oscar de Melhor Atriz pelo seu brilhante desempenho neste “Para Sempre Alice”, dirigido pela dupla inglesa Richard Glatzer e Wash Westmoreland. Um longa que aborda o Mal de Alzheimer, uma das doenças mais cruéis da humanidade. Além dos efeitos fisiológicos de disfunção motora, imagine ter suas memórias apagadas e desconhecer entes queridos. O efeito é tão devastador que afeta psicologicamente os mais próximos.
De maneira direta, o filme começa nos mostrando o sucesso familiar e profissional da professora linguística Alice Howland (Julianne Moore), que aos poucos começa a esquecer palavras e tem seu trabalho prejudicado por isso. Alice decide procurar ajuda médica quando, numa caminhada, se perde pelas ruas do bairro onde mora. Logo é diagnosticada com Alzheimer, para a incredulidade geral – já que está na flor da idade adulta. Nessa nova luta, encontra na família alento e empecilho, pois, ao mesmo tempo em que se aproxima dos filhos, tem graves entraves com o marido.
Sem muito ousar ou inovar, Glatzer e Westmoreland entregam um drama enfermo deveras convencional, que assim como “A Teoria de Tudo” (2015), aposta todas as suas fichas no elenco e principalmente na figura central. Narrativamente linear, a fita vai gradativamente exibindo a marcha da patologia de Alice, e por assim o que isto causa às pessoas a sua volta. Vemos, então, aquela mulher prestigiosa tornando-se cada vez mais frágil e dependendo de terceiros para levar uma vida “comum”. Muitas cenas são inteligentemente sutis e ao mesmo tempo acentuadas, como a passagem no teatro ou o andamento que ela não acha o banheiro em sua própria casa.
Por outro lado, às vezes, os diretores inserem momentos intimistas da infância de Howland – que bem poderiam ser descartados -, acompanhados a uma melancólica trilha sonora, no intuito maniqueísta de arrancar emoção do espectador. Ou até no modo esquemático que os autores constroem o esqueleto da obra, fazendo a trama ficar automatizada. Diferente do final, que não apela ao ponto de querer mostrar Alice num estado catatônico.
Entretanto, o grande trunfo de “Para Sempre Alice” é o seu casting. Como de costume, Julianne Moore oferece todos os traços dramáticos que detém e é perspicaz por não se entregar ao melodrama exagerado, podendo soar overacting. A beleza de sua interpretação está na sutileza dos gestos, nos olhares longínquos e na espontaneidade conferida. O esposo John, vivido por Alec Baldwin, sempre competente, também tem um importante papel na trama e serve de escada para Moore brilhar ainda mais. Kristen Stewart e Kate Bosworth não comprometem e estão bem em suas funções.
Em suma, o filme não é nada que já não tenhamos visto antes, mesmo porque, como já citamos, não faz muito tempo que uma doença atroz foi explorada de maneira mais compassiva e delicada – o que, a bem da verdade, nunca é demais. Todavia, ainda que ambos tenham estilos e empreendimentos distintos, tanto Eddie Redmayne quanto Julianne Moore fizeram trabalhos impecáveis, em vários aspectos, e merecem o reconhecimento que estamos presenciando. Sendo clichê, são figuras que nos dói na alma, mas advertem sobre a magnifica dádiva de viver.