A impressão que se tem ao assistir “Annie” é que não existe nada de ruim nesse mundo e que tudo gira em torno da música. Logo na abertura do filme está tocando uma canção ao fundo, daí a buzina do carro vai no ritmo da música, o fechar das portas do caminhão segue as batidas e etc. Não que isso seja uma coisa ruim, mas mostra que felicidade é uma questão de estado de espírito e a música sabe como conversar com cada um. O problema é que as passagens musicais do filme são tão forçadas e exageradas (pro lado ruim), que fazem com que este longa seja apenas mais um no gênero responsável por tantos clássicos.

Baseado na produção original de sucesso da Broadway, esta terceira adaptação (a primeira para o cinema em 1982 e a segunda pra TV em 1999) conta a história de Annie (Quvenzhané Wallis), uma jovem órfã que vive em um orfanato comandado com mão de ferro pela senhora Hannigan (Cameron Diaz). Sua vida muda ao ser escolhida para passar alguns dias na mansão de um milionário político (Jamie Foxx), onde acaba fazendo amizade com seus funcionários e sendo usada para fins eleitoreiros.

Quvenzhané Wallis é uma gracinha. Acho que é a melhor forma de definir a jovem atriz, que ganhou destaque no excelente “Indomável Sonhadora”. Ele tem toda a simpatia, talento e canta bem, mas o texto que deram pra ela é tão ruim, que torna a sua atuação falsa e forçada. Eu sei que é difícil se manter na linha ténue que separa um musical de algo chato e sem graça, pra um clássico que você compra a trama desde o começo. Mas a história dessa órfã (Wallis) em nenhum momento te convence. Ela parece ser mais feliz com as amigas no orfanato do que nessa busca desenfreada por uma família. Aliás, ela é feliz. Ela é sempre feliz, até quando está triste. Talvez se tivessem assistido “O Som do Coração”, saberiam como é fazer uma boa escolha de elenco que mescla tristeza (por estar longe dos seus pais) e amor pela música.

Já Cameron Diaz parece ter saído de “Professora sem Classe” direto pra esse filme. O que aconteceu com a atriz? Parece que não cansa de fazer esses papeis forçados e exagerados. Praticamente em todos os seus filmes ela tem essa personalidade. Estou quase acreditando que a própria Diaz é assim. Se a ideia era fazer uma governanta insuportável, ela conseguiu. Então parabéns, né? No mesmo ritmo, temos um exagerado Jamie Foxx. E olha que ele tem experiência com música, afinal é cantor e interpretou no cinema o grandioso Ray Charles (ganhou até um Oscar). Parece que ele estava meio incomodado no papel de um politico escroto.

Só não digo que foi um desastre completo, porque o filme tem alguns momentos. Uma cena muito engraçada foi ver Mila Kunis, Ashton Kutcher e Rihanna fazendo uma paródia de “Crepúsculo“. Tirando isso, só o carisma de Rose Byrne e David Zayas salvam o pano de fundo de “Annie”.

O longa é produzido por Will Smith e Jay-Z, mas a impressão que se tem é que não tiveram nenhum envolvimento, pois ambos são especialistas em música e é nesse ponto que o filme mais peca. Talvez a direção com cara de clipe de Will Gluck (de “Amizade Colorida”) deu um tom de especial de fim de ano. Eu tenho certeza que o objetivo era trazer emoção através da história da jovem Annie e divertir pelas situações inusitadas que acontecem enquanto as músicas são cantadas. O problema é que eles não conseguiram fazer nada.

Sabe aquela pessoa que acha que está arrasando? Esse é “Annie”. Tem números musicais extravagantes e as vezes práticos, mas sempre com a sensação de “nossa, como eu sou descolado”, “nossa, olha como nossas músicas são boas”. E no fim, não é nada disso. Tirando o carisma de alguns personagens e algumas situações divertidas, no fim fica um filme bobo e desnecessário. Tenho certeza que o musical da Broadway é muito melhor.