Cinema com Rapadura

OPINIÃO   domingo, 08 de fevereiro de 2015

A Mulher de Preto 2 – Anjo da Morte (2015): não há medo na previsibilidade

Ao apostar no terror formulaico, esta continuação ignora o clima tenso do capítulo anterior, entregando personagens rasos e situações previsíveis e repetitivas.

imageSe o longa anterior da franquia se mostrava um filme de terror à moda antiga, na melhor tradição dos filmes da Hammer, este “A Mulher de Preto 2 – Anjo da Morte” se mostra muito mais formulaico que seu predecessor, erra ao deixar de investir na atmosfera tensa do capítulo passado e ao apostar em jump scares, que se tornam deveras previsíveis no decorrer da projeção.

Dirigida por Tom Harper, que também colaborou no roteiro, ao lado de Jon Croker, a continuação é ambientada no período da blitz, na Segunda Guerra Mundial, onde várias crianças foram enviadas de Londres para o interior da Inglaterra, fugindo dos bombardeiros nazistas.

Neste cenário desolado, a jovem professora Eve (Phoebe Fox), supervisionada pela severa diretora Jean Hoggs (Helen McCrory), levam seus alunos para a casa do primeiro filme, desconhecendo as desgraças que aconteceram no local, tantos anos antes. Quando a personagem-título surge e desenvolve uma atenção especial com o traumatizado órfão Edward (Oaklee Pendergast), Eve tenta salvar o garoto e as demais crianças, contando com a ajuda de Harry (Jeremy Irvine), um jovem oficial da aeronáutica estacionado na cidade.

A ideia de situar essa continuação quatro décadas após a fita anterior é inteligente, pois dá liberdade aos autores de trabalharem com as reações de novos personagens ao ambiente amaldiçoado sem qualquer amarra aos eventos já mostrados. No entanto, essa é uma faca de dois gumes pois, considerando ser uma continuação, não há mistério quanto a natureza sobrenatural da ameaça ou mesmo sobre o background desta.

Ao invés de se aprofundar nesse mistério, Harper preferiu trabalhar em terreno conhecido, o que resultou em personagens esquemáticos e sustos fáceis, passando longe do clima assustador que marcou a produção estrelada por Daniel Radcliffe, talvez até porque, sem a presença do astro da série “Harry Potter”, os realizadores resolveram apostar no que seria teoricamente “seguro”.

O problema é que o medo está justamente no desconhecido e jump scares e aumentos repentinos no volume de trilha sonora já eram repetitivos nos anos 1980. Ora, os ingleses estavam vivendo em um clima de pavor constante naquela época, com a possibilidade da morte chegar pelo ar a qualquer minuto e pouco desse pavor foi aproveitado pela narrativa, desperdiçando uma chance de ouro de misturar os horrores mundanos e sobrenaturais.

Para completar, o casal central de heróis vividos por Phoebe Fox e Jeremy Irvine não convence muito, embora Irvine se saia um tanto melhor que sua companheira de cena por ter um arco dramático mais sólido. Por sua vez, Helen McCrory está em cena só para ser a voz da razão em meio ao medo do paranormal, sendo prejudicada pela faca de dois gumes já citada.

Mas o grande calcanhar de Aquiles da produção é mesmo o Edward de Oaklee Pendergast. Como a primeira aparição do garoto em cena já em sua versão quase catatônica por ter presenciado a morte dos pais, o público não tem um referencial de seu comportamento antes de ser influenciado pela tragédia e pela Mulher de Preto. Nisso, se torna impossível compreender a força do laço entre ele e a professora Eve e o motivo dela se esforçar tanto para salvar o menino, com a falta de química entre Fox e Pendergast também não ajudando.

A direção de arte recria de maneira competente a Inglaterra do período de guerra e a ruína da mansão onde se passa boa parte da narrativa, embora esta tenha menos “personalidade” que no filme passado. Embora tecnicamente competente, a impressão que fica é que essa continuação não foi feita com o mesmo esmero que sua predecessora, resultando em uma produção medíocre e esquecível.

Thiago Siqueira
@thiago_SDF

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