Cinema com Rapadura

OPINIÃO   domingo, 25 de janeiro de 2015

Foxcatcher – Uma História que Chocou o Mundo (2015): um filme de essência melancólica

Contando com grandes atuações, este drama americano tem em seu raio-x forte peso narrativo e uma história chocante que justifica seu jeito brando de ser.

372213_jpg-r_640_600-b_1_D6D6D6-f_jpg-q_x-xxyxxO cineasta norte-americano Bennett Miller começou como documentarista no pessoal “The Cruise” (1998), onde desde cedo dava indícios que se interessava mesmo em falar sobre fatos verídicos. Foi assim com a cinebiografia “Capote” (2005), onde discutiu a respeito da pena de morte, e no competente “O Homem Que Mudou o Jogo” (2011), quando junto com o parceiro Aaron Sorkin apontava a importância das estáticas para evolução do baseball. Agora neste “Foxcatcher – Uma História que Chocou o Mundo”, que de cara chama atenção pela estranha caracterização do ator Steve Carell, Miller apresenta a história mais triste e inusitada que já contou, e por assim o seu trabalho mais interessante até aqui.

O longa aborda um espantoso caso envolvendo os irmãos David e Mark Schultz (Mark Ruffalo e Channing Tatum), famosos lutadores da vertente greco-romana, e o milionário, (ou como preferia ser lembrado) ornitólogo, filatelista e filantropo John du Pont (Steve Carell). Sempre preocupado em passar uma imagem de cidadão americano comprometido, du Pont, que também se diz apaixonado pela modalidade olímpica, cria seu próprio clube, Foxcatcher, e chama os irmãos Schultz para a equipe. Oferecendo, além de um bom salário, as melhores instalações do país para treinamento, o convite é irrecusável. No entanto, não demorou muito para que percebessem a verdadeira face do empresário, e o que este pode causar.

Ainda criança, John du Pont era um sujeito que não conseguia se relacionar – chegou a confessar que tinha apenas um amigo e que anos mais tarde descobriu que este era remunerado por lhe fazer companhia –, até mesmo sua mãe mantinha um certo distanciamento através do autoritarismo da época. Logo, não foi diferente com os membros do grupo, já que quando arrisca se entrosar, acaba soando deslocado, devido a sua postura distante e superficial que exibe. Aliás, de cara percebemos algo incomodo em du Pont, mesmo tendo em mente que até metade do segundo ato o vemos como uma figura sofrível e ao mesmo tempo caridosa, mas, então, quando o conhecemos conseguimos entender tal aura.

Inicialmente, achamos que muito disso se deve a curiosa interpretação de Steve Carell, que por trás de uma maquiagem bastante carregada, constrói um personagem de pouca expressão facial e com dificuldades de comunicação – fala como se quase sussurrasse. O que deixa o espectador ainda mais apreensivo, por não saber o que esperar de du Pont. Porém, quando observamos o comportamento de David e Mark – que respectivamente ganham vida através de Ruffalo e Tatum, e também surgem repletos de facetas interpretativas como linguagem corporal e exclusão de diálogos por olhares – notamos que a narrativa de Bennett Miller tem papel fundamental para tais sensações. Amparado pela fotografia dessaturada e melancólica de Greig Fraser, o diretor cria um universo absolutamente denso, de clima pesado e que pouco abre espaço para planos (ou momentos) alegres e genuinamente comemorativos.

A escolha de Miller, sua deveras arrastada condução fílmica, pode parecer equivocada para o público médio, acostumado com uma pegada mais enérgica e atuações overacting. Por outro lado, o conceito deve também impressionar pela ideia do cineasta engendrar um anticlímax depressivo até o momento decisivo no final do terceiro ato. Assim, “Foxcatcher – Uma História que Chocou o Mundo” é um filme realmente peculiar, pode ser enxergado como um interessante estudo de personagens para alguns e uma chatíssima história americana para outros. Entretanto, acredito que precise ser conferido não apenas para conclusão avaliativa, mas pelo tema ou caso que explora. O fato é corriqueiro, mas uma oportunidade para melhor conhecer o humano.

Wilker Medeiros
@willtage

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