Reese Witherspoon protagoniza cinebiografia com talento e emoção.
É comum, depois de uma grande perda ou uma grande desilusão amorosa, que algumas pessoas busquem por mudanças em sua vida, partam em viagens longas ou em jornadas isoladas de autoconhecimento. Em meados dos anos 1990, isso aconteceu com a jovem Cheryl Strayed e agora o diretor Jean Marc-Vallée traz sua aventura para as telas, com roteiro de Nick Hornby, baseado no livro escrito pela própria Cheryl.
Cheryl Strayed (Reese Witherspoon) é uma jovem frustrada, que mora em um apartamento minúsculo com sua mãe Bobbi (Laura Dern) e o irmão Leif (Keene McRae). Além do apartamento, ela tem um imenso constrangimento em dividir com a mãe também o curso na faculdade, enquanto seu irmão é relapso em relação à família. Para coroar sua vida sem graça, ela está casada a seis anos com Paul (Thomas Sadoski), em um relacionamento frio e repleto de mágoas e ressentimentos.
Quando uma das peças dessa frágil estrutura que é a sua vida se quebra, ela começa a tomar atitudes autodestrutivas, como abuso de drogas, vários parceiros sexuais aleatórios e o abandono da faculdade. Depois de mais uma surpreendente pancada da vida, ela decide percorrer a Trilha do Pacífico (Pacific Crest Trail) para se colocar novamente em algum eixo e voltar a ter controle de sua vida.
Jean Marc-Vallée conta essa história de uma forma tocante e sensível. Em perfeita consonância com o trabalho de montagem, aos poucos ele joga, de forma quase aleatória, fatos importantes da vida de Cheryl, para apenas algum tempo depois amarrar esses fatos, normalmente em catarses emocionantes da protagonista. O diretor também é competente a mostrar como cada pessoa que ela encontra em sua aventura, mesmo sem querer, lhe oferece uma nova perspectiva na forma de ver a vida. Dessa forma, cada frame que surge na tela desperta o interesse e curiosidade do público para descobrir mais uma faceta daquela personagem tão fascinante.
E esse fascínio se deve ao incrível trabalho de Reese Witherspoon. A atriz se despe de qualquer vaidade e se entrega de corpo em alma, em um dos melhores trabalhos de sua carreira. Ela constrói uma personagem em constante amadurecimento, que traz em seu corpo e mente todas as cicatrizes acumuladas em vários anos de traumas e maus tratos ao longo da vida. Ela é capaz de passar de uma drogada que transa com desconhecidos em um beco com a mesma desenvoltura que interpreta uma jovem frágil e assustada que pega carona com um estranho.
Igualmente competente, porém com menos espaço, surge Laura Dern. Bobbi é um perfeito contraponto em relação a Cheryl. Trata-se de uma mulher que, apesar de todos os problemas que enfrentou na vida, ainda consegue manter o bom humor e autoestima, cobrindo seus filhos de amor e carinho, mesmo recebendo tão pouco em troca.
A obra ainda é carregada de simbolismos, tanto nos aspectos visuais quanto nos diálogos fortes que permeiam a trama. Mesmo frases curtas como “É o seu peso”, dita displicentemente por um interlocutor de Cheryl tem a impacto de uma bomba atômica na protagonista.
O grande mérito dos realizadores é transformar, de uma forma extremamente criativa, uma história aparentemente clichê em uma grande narrativa, com ares de fábula, sobre autoconhecimento, perdão e a capacidade de se renovar.