Visivelmente feito às pressas e montado nas coxas, o primeiro longa solo dos Pinguins só se salva por conta do carisma de seus personagens, com o filme tentando sabotar a si mesmo constantemente.
Capitão, Kowalski, Rico e Recruta. É quase unanime que os Pinguins roubaram basicamente todas as cenas em que apareceram na franquia “Madagascar” e conseguiram tornar os momentos em que apareceram no terceiro filme da trilogia razoavelmente suportáveis – um feito, considerando quão ruim aquele longa foi.
Após ganharem uma divertida e absurda série animada, os irmãos empenados agora estrelam um longa solo, intitulado “Os Pinguins de Madagascar”. Já que os protagonistas são metidos a agentes secretos, a ambientação escolhida para a trama remete aos dos “007” clássicos, com direito a múltiplas locações ao redor do globo e um vilão megalomaníaco dotado de um esconderijo exótico e máquinas malignas elaboradas.
No entanto, antes de dar início ao plot principal, o roteiro apresenta dois prólogos. O primeiro mostra a origem do grupo (e estabelece o ingênuo Recruta como o coração da equipe). Já o segundo coloca o quarteto basicamente fugindo da franquia “Madagascar” como o diabo foge da cruz, não suportando mais aquele negócio de “Eu me remexo muito” – e quem pode culpá-los?
De todo modo, esta aventura mostra os Pinguins enfrentando o insano polvo Dave, uma figura do passado do grupo que deseja se vingar do mundo usando o misterioso soro da medusa. Para impedir os planos do vilão, os heróis juntam forças com o Vento Norte, espiões animais bem equipados e chiques liderados pelo elitista husky siberiano Secreto (cujo nome não é “Secreto”, aliás).
O humor que vem da interação entre os quatro irmãos, especialmente pela inocência do Recruta contraposta à quase inabalável auto-confiança do Capitão continua bastante afiado (vide a perseguição após o primeiro encontro com o vilão ou a cena da queda livre), mas o que não funciona são os personagens do Vento Norte, todos muito monótonos, com apenas Secreto tendo algum destaque, o que deixa o quarteto sem muito com quem interagir.
Rico e Kowalski ficam relegados boa parte da projeção ao segundo plano, o que sabota a própria proposta da produção, que seria explorar melhor os quatro personagens. Mesmo a motivação do vilão Dave se mostra por demais genérica e suas ações inócuas, e apenas a cena do diálogo via Skype provoca alguns risos. Nem mesmo seus lacaios polvos coloridos chamam a atenção.
O longa se arrasta aos trancos e barrancos e não dá espaço em seu miolo para que os protagonistas brilhem apropriadamente, nem para que o non-sense anárquico que marca a série televisiva se apresente com a força necessária. Algumas piadas soltas até fazem rir, mas o conjunto como um todo não engrena em momento algum.
Visualmente, com exceção das já citadas set-pieces da perseguição e da queda livre, a produção também se mostra pouco imaginativa, pouco explorando os diferentes cenários que surgem no decorrer da trama (apenas Xangai surge um tanto mais elaborada e olhe lá).
Nisso, o próprio 3D que a produção vende torna-se inútil, pois não há uma cena sequer que justifique plasticamente o ingresso mais caro (até mesmo em “Madagascar 3” o número musical final, por menos sentido que fizesse, tinha um visual 3D muito bonito). A trilha também se mostra longe de ser memorável, completando um espetáculo de mediocridade que esses heróis de penas não mereciam.
A impressão que fica é que o filme fora montado às pressas meramente para lucrar em cima dos personagens, o que não deixa de ser uma verdade nos tempos de hoje. Ao “presentear” os Pinguins com uma fita desse nível, a impressão que fica é que eles funcionam melhor em doses homeopáticas. Melhor ficar em casa e assistir uma maratona da série para TV.