Cinema com Rapadura

OPINIÃO   sábado, 13 de dezembro de 2014

À Procura (2014): mais um suspense morno de Atom Egoyan

Thriller não cumpre o que promete e resulta em filme repleto de irregularidades.

Há algum tempo, quando o trailer de “À Procura” despontou nas salas de cinema, o mais novo filme do diretor Atom Egoyan prometia um thriller tão bizarro quanto envolvente. Parecia que ele seria capaz de redimir o diretor dos seus filmes anteriores, uma sucessão de obras que também prometiam mais do que de fato cumpriam ao final da projeção.

A chegada aos cinemas, no entanto, manteve o sabor amargo para os espectadores. De início, a trama enrolada de “À Procura” até começa chamando a atenção por soar tão peculiar: ao parar o carro para fazer uma compra rápida, Matthew (Ryan Reynolds) vê sua vida virar de ponta cabeça quando sua filha (Cass) de nove anos (Peyton Kennedy/Alexia Fast) simplesmente some do veículo. O desaparecimento da menina leva a uma investigação liderada pelos policiais Nicole (Rosario Dawson) e Jeffrey (Scott Speedman), que somente após vários anos têm pistas do paradeiro da menina e do seu atual envolvimento com uma rede de pedofilia.

Aliado ao argumento que parte de uma idéia interessante, a opção por explorar um ritmo menos corrido e calcado em idas e vindas na linha temporal do filme surge como uma dos poucos aspectos interessantes de “À Procura”. Porém, os furos absurdos do roteiro e a falta de exploração nas estratégias de criar alguma empatia entre público, Matthew ou Cass corroem o filme por dentro de tal maneira que seus 112 minutos de projeção parecem bem mais longos.

A mão pesada da direção de Egoyan em “À Procura” dá continuidade à má condução do egípcio em relação à carreira nos últimos anos. Nesse filme também fica claro que, apesar de o diretor prezar e ter domínio sobre questões técnicas, em especial visuais, isso por si só está longe de se refletir em qualidade em termos de narrativa. Ele parece tentar trabalhar o misto de brutalidade das situações com uma expressão mínima das atordoadas vivências internas de seus personagens a exemplo de um Michael Haneke ou mesmo de um Steve McQueen, mas ao invés disso as personagens de “À Procura” passam apenas por folhas em branco, incapazes de gerar empatia ou repulsa, tornando difícil para o espectador aceitar passivamente essa atmosfera perante a delicada temática do filme.

Infelizmente, para Egoyan, “À Procura” é muito mais um exercício de estilo, ou de eventuais quebras de estilo, à exemplo dos constantes anticlímax que ele cria para o thriller, que um filme que conta uma história para qual a reação natural seria sentir algo sobre ela. Nesse sentido, nem mesmo bons nomes como Reynolds ou Dawson conseguem trazer vida à obra, dada as escolhas de direção, tornando apta a figurar no minguado catálogo de títulos do Supercine.

Susy Freitas
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