Jason Reitman entrega um longa razoavelmente equilibrado, mas tropeça ao trocar a simplicidade de trabalhos anteriores por uma pretensão exagerada e duvidosa.
Jason Reitman é um diretor canadense que fez alguns bons filmes ao longo de sua, até então, curta carreira. O que sempre me chamou atenção em seus trabalhos, especialmente os mais reconhecidos “Juno” e “Amor Sem Escalas”, é o fato de que ele consegue construir, a partir de tramas aparentemente simples e descompromissadas, histórias com um toque de profundidade que cativam o espectador e o faz refletir sobre alguns aspectos da nossa vida social e da essência humana. Aqui, no entanto, o que acontece é exatamente o contrário: Reitman costura uma narrativa que aspira ser mais complexa e profunda do que realmente o é, resultando em apenas um filme simples e banal e não mais do que mediano.
Adaptado do romance de Chad Kultgen, “Homens, Mulheres e Filhos” acompanha uma série de pequenas histórias envolvendo pessoas da típica classe média norte-americana, com suas neuras, seus traumas e relações desgastadas pelo tempo. Assim, temos a mãe “superprotetora” que proíbe a filha de ter uma vida social minimamente livre, o casal de meia-idade que enfrenta problemas no casamento, a garota que faz uma dieta radical para emagrecer exageradamente, a adolescente aspirante a estrela do Hollywood, o garoto que sofre de tendências depressivas após o divórcio dos pais, etc. Todas essas pequenas linhas narrativas se cruzam e se misturam, em um eficiente entrelaçamento que, apesar de bem orquestrado, acaba não chegando a lugar algum.
A intenção de Reitman é clara: criar um grande estudo acerca da essência do homem médio americano através de um sintomático recorte de realidade. Todavia, o diretor e corroteirista (juntamente com Erin Cressida Wilson) parte de uma série de estereótipos que depõe contra a consistência daquele universo construído, de modo que as relações estabelecidas entre os personagens acaba soando um tanto forçada e menos crível do que deveria. Assim, temos uma trama carregada excessivamente de um drama frágil, indo justamente na contramão daquilo que, dentre outros elementos, consagrou “Juno” e “Amor Sem Escalas”; o fato de ser um enredo leve, divertido e cativante, colocando eventuais pretensões mais subjetivas em segundo plano.
Neste sentido, entretanto, é inegável a destreza do cineasta canadense em construir e desenvolver com equilíbrio suas diversas tramas conectadas umas nas outras. Todos os indivíduos têm tempo suficiente em tela para serem devidamente explorados e seus dramas, apesar de carregado em excesso e superficiais, são colocados com sensibilidade para o espectador. Além do mais, é sempre bom ver artistas competentes se entregarem de modo tão honesto a seus papéis, como é o caso de Adam Sandler (que sim, é um bom ator, apesar das péssimas escolhas para trabalho), Jennifer Garner, Dean Norris e do próprio Ansel Elgort, de “A Culpa é das Estrelas”. Jason Reitman, por sua vez, adota uma abordagem simples e funcional como de costume e não poupa sua câmera de lentes teleobjetivas, focando somente naquilo que o interessa: seus personagens; estes são a força motriz da película e o que move a ação adiante.
No entanto, tais virtudes esbarram na rasa pretensão por trás das ideias e temas propostos. Como se não bastasse, ainda temos uma narração em off bastante questionável protagonizada por Emma Thompson, que nada acrescenta de muito significativo à narrativa; muito pelo contrário, sua presença no longa é tão dispensável que a partir de determinado ponto, sem qualquer motivo aparente, ela é deixada de lado e não volta a ser utilizada. Algo estranho e que denuncia a insegurança dos realizadores quanto às ferramentas e recursos a serem aproveitados como meios auxiliares de se contar a história.
Dessa forma, entre qualidades e defeitos, “Homens, Mulheres e Filhos” não consegue sequer chegar perto de alcançar os objetivos traçados e acaba caindo no campo da mediocridade, na acepção da palavra. É um longa equilibrado, mas que peca por sua pretensão excessiva e um conteúdo óbvio e banal, fazendo desta ambiciosa obra, uma espécie de “semitropeço” deste cineasta que já provou ser competente, mas que aqui não funcionou como em outras jornadas.