Animação belga deixa a desejar e desperdiça personagens com potencial.
Uma das grandes vantagens de uma animação em relação aos filmes em live action é a liberdade criativa das cenas, como posicionamento de câmeras e movimentos de personagens e objetos. Por isso, é sempre uma decepção quando os realizadores de uma obra nesse formato parecem engessados em fórmulas e não ousam ir além. O mais recente caso é este “A Mansão Mágica”, dirigido por Ben Stassen e Jeremy Degruson.
O filme conta a história de Trovão (Murray Blue), um simpático gatinho laranja que, depois de ser abandonado por sua família, encontra abrigo na casa de Leonardo (Doug Stone), um velhinho que trabalha como mágico. Porém, Leonardo tem em sua casa alguns bichinhos de estimação que fazem parte de suas apresentações, como a ratinha branca Nina (Shanelle Gray) e o ranzinza coelho Zeca (George Babbit), que não gosta nem um pouco do novo “membro da família”. Além desses animais, Leonardo possui também alguns objetos animados magicamente que parecem ter vida própria e que também são ajudantes em seus números.
Depois de um acidente de bicicleta, Leonardo vai parar no hospital. Uma oportunidade perfeita para seu sobrinho Daniel (Grant George), um ganancioso corretor de imóveis, vender a mansão e mandar o tio para um asilo. Por conta disso, cabe a Trovão e seus novos amigos protegerem a casa até a volta de seu querido dono.
Além dessa premissa, totalmente batida e sem atrativos, a sua execução é pobre em termos narrativos. As sequências parecem na verdade uma série de colagens de outros filmes, dada a artificialidade com que a história é contada. O único momento em que o público é surpreendido por algo minimamente interessante é na sequência em que vários potenciais compradores são levados a visitar a casa.
Um dos poucos aspectos em que o filme funciona é em sua construção visual. Ainda assim, com ressalvas. A animação dos personagens é bastante fluida e realista, além da boa ideia de exagerar na caricatura de Daniel e Leonardo como uma forma de ressaltar alguns aspectos de suas personalidades, o mesmo ocorrendo com Nina e Zeca.
Como protagonista, Trovão é aquele que recebe o tratamento mais rebuscado. Os movimentos felinos são recriados com imensa fidelidade, como o hábito de lamber as patas ou o modo como os pelos das costas se levantam quando ele sente medo ou raiva.
Os arcos dramáticos pouco desenvolvidos ainda comprometem o desfecho da trama, com mudanças de personalidade repentinas sem muitas explicações ou soluções fáceis e previsíveis. O mais lamentável de uma fita fraca é o desperdício de um personagem com um potencial tão grande como o adorável Trovão.