Cinebiografia conta bem a incrível trajetória do polemico Tim Maia, mas possui um estilo convencional que pouco tem a ver com sua personalidade.
Sebastião Rodrigues Maia, o mitológico Tim Maia, nasceu na Tijuca durante a Segunda Guerra e aprendeu tudo sozinho: tocava violão, bateria, baixo, música e letra. Logo no início, ao lado de Erasmo e Roberto Carlos, começou fazendo rock and roll e com 17 anos foi para Nova York, onde aprendeu, além do inglês, o funk, soul e rhythm and blues, mas se meteu em encrenca e terminou sendo preso e deportado. De volta ao Brasil, levava uma vida louca entre dramas e comédias. Cinco anos depois, com muito esforço, gravou seu primeiro LP, e não demorou muito para alcançar o sucesso. Entretanto, estabilidade nunca foi o seu forte, a única certeza que temos sobre Tim é que ele foi um dos maiores cantores brasileiros de todos os tempos, que se tornou um dos pais fundadores da moderna música negra nacional.
Quase dez anos após sua morte, o compositor, jornalista e produtor Nelson Motta fez o que é para muitos a biografia definitiva do gênio tijucano, “Vale Tudo – O Som e a Fúria de Tim Maia“. O livro teve uma recepção à altura do artista e até hoje é venerado pela crítica e público. Era certo que logo se transformaria em filme. Foi só o cineasta Mauro Lima (“Meu Nome Não É Johnny“) e o produtor Rodrigo Teixeira terem acesso à autorização de Motta e da família Maia para pôr na telona essa história. Não por coincidência, Lima já havia biografado Tim, em 2007, no programa “Por Toda Minha Vida“, que diz ser uma espécie de embrião do filme.
Tomando como base o próprio livro e um apanhado de contos escritos por Fabio Stella, chamado de “Até Parece que Foi Sonho“, o longa “Tim Maia”, estrelado pela dupla Robson Nunes e Babu Santana, conta com propriedade e riqueza de detalhes a trajetória dessa que é uma das figuras mais malucas e geniais que o Brasil já pariu. O filme possui um design de produção belíssimo e detém de figurinos e cenários impressionantes que retratam, fielmente, as épocas aludidas. A fotografia de Dudu Miranda e Junior Malta também auxilia bastante e confere, pontualmente, tons referentes a cada uma das etapas, isso sem nunca perder a elegância estética latente. Mauro Lima, igualmente, engendra planos interessantes e constrói uma narrativa bastante direta, que não inventa muito, mas prende o espectador do início ao fim, ainda que no total a obra soe um tanto inchada pela longa duração.
O desempenho dos dois protagonistas também não fica atrás, ambos demonstram total comprometimento com o tridimensional personagem e retratam, com perfeição, seu jeitão atrapalhado e desbocado. Robson Nunes, aliás, havia interpretado Tim Maia no próprio programa já citado e aqui está ainda melhor na realização do jovem Tião. Mas quem ofusca a todos quando em tela é mesmo Babu Santana. Não é só o visual que surpreende em semelhança, mas os trejeitos, a voz, o sotaque e, sim, o cantar. Treinando e se preparando por meses, Santana em alguns momentos até dubla o Tim, mas quando é exigido mostra seu talento vocal e não faz feio. Por outro lado, a interpretação de George Sauma como Roberto Carlos ultrapassa o tosco e beira o ridículo. Alinne Moraes e Cauã Reymond não comprometem, nem acrescentam.
Contudo, o grande problema da fita é justamente o seu jeito de ser. É uma cinebiografia absolutamente esquemática, da qual estamos acostumados a ver nas produções Globo Filmes – que aqui apenas coproduz -, não tem a marca suja e anárquica do gordo carioca que espantava a todos com seu humor louco delicioso e talento descomunal. Poderia ser vista como careta. É deveras cuidadosa e descreve bem sua história, mas está longe ter a fúria e o poder do cantor. Apesar disso, cumpre bem a função de mostrar ao público mais novo quem era o gigante Tim Maia.