Nicolas Cage surta e grita aleatoriamente em um filme de ação ruim. De novo. Já está ficando sem graça.
Sabem quando uma piada repetida mil vezes fica sem graça? É isso o que vem acontecendo com Nicolas Cage. Nos últimos anos, o público tem assistido o oscarizado ator sumir em um canastrão que estrela uma revoada de filmes de baixíssima qualidade e que usa o overacting como uma muleta para esconder-se em um material abaixo da linha do medíocre. E este “Fúria” é apenas mais um exemplo disso.
Dirigido pelo pouco experiente Paco Cabezas, o longa é uma sucessão de clichês baratos seguido por uma reviravolta que, de tão imbecil, parece tirada de uma paródia, (de)mérito tanto da direção exagerada de Cabezas quanto do roteiro da dupla Jim Agnew e Sean Keller.
Na trama, Paul Maguire (Cage) é um criminoso regenerado que se tornou um empresário de sucesso e pai de família. Quando sua filha adolescente, Caitlin (Aubrey Peeples), aparece morta, Paul volta aos seus antigos meios, suspeitando que a morte da garota foi encomendada pela máfia russa, contando com a ajuda de seus antigos parceiros no crime, Kane (Max Ryan) e Danny (Michael McGrady), na “investigação”.
Apesar dos diálogos horrorosos e da direção tacanha, incapaz de torar uma mísera cena de perseguição sequer interessante do ponto de vista visual, o que chama mais a atenção nesse desastre é o próprio Nicolas Cage. O fato é que, não fosse o nome do seu astro, “Fúria” jamais teria sequer chegado aos cinemas, sendo relegado ao inferno dos filmes de ação classe Z lançados diretamente para o mercado de home entertainment (que, convenhamos, é onde esta produção realmente merece figurar).
Acompanhar a maioria dos filmes recentes de Cage tem se tornado quase um exercício sadomasoquista para o público brasileiro, que realmente abraçou a tosqueira da qual o nome do ator tornou-se quase sinônimo. Claro, de vez em quando, ele ainda encontra um bom projeto para investir o seu nome (o recente “Joe” é exemplo disso), mas, via de regra, Cage se relegou a participar de fitas ruins e atuar em uma espécie de piloto automático, no qual os únicos elementos de destaque são suas perucas e surtos, ambos igualmente sem sentido.
E isso resume basicamente o seu método de interpretação ao viver Paul Maguire. Cage passeia pela tela quase como um zumbi entorpecido, com exceção dos três momentos onde ele enlouquece e começa a gritar e/ou repetir frases de maneira aleatória. Chega a ser deprimente ver um ator se perder deste modo.
Também é doloroso ver Danny Glover, outrora um grande nome de Hollywood, surgir na tela do mesmo modo letárgico que o ator principal, vivendo um personagem coadjuvante que, se retirado do filme, não faria falta alguma. E se falo demais da tristeza em ver esses dois “monstros sagrados” do cinema americano chafurdarem na decadência ao participarem de uma película deste calibre é porque não há muito sobre o que se falar em relação ao filme em si.
O restante do cast está abaixo da crítica, com especial destaque para uma constrangedora cena de “quase” sexo entre Cage e a bela Rachel Nichols e um confronto entre Paul e seu amigo Danny, onde Cage e seu colega de elenco, Michael McGrady, parecem não entender o desfecho da briga entre seus personagens.
Cabezas tenta brincar com a relação luz/sombras da mente de Paul, aplicando esta dicotomia na fotografia do filme em algumas cenas, mas o resultado é “lavado” demais, especialmente por conta da falta de sutileza na utilização da técnica. O efeito de disparo das armas chega a dar inveja a séries de TV dos anos 1980 e a montagem do longa em si beira o amadorismo, especialmente na sequência em que Paul tenta montar o “quebra-cabeças” central do roteiro.
Tentando desesperadamente deixar uma lição sobre a insanidade da violência, e falhando miseravelmente em seu intento, “Fúria” revela-se apenas mais um bom jogo do bingo de Nicolas Cage, onde o público pode brincar de achar todos os maneirismos exacerbados do ator. Só assim para se encontrar algum entretenimento com a película. De preferência, com amigos e uma garrafa de vodca ao lado.