Cinema com Rapadura

OPINIÃO   segunda-feira, 13 de outubro de 2014

O Inventor de Jogos (2013): um verdadeiro jogo da vida

Mesmo com um protagonista interessante e uma história fechada (algo raro nos dias de hoje), o longa fica só na promessa, se perdendo em plots apressados e sem muito nexo.

imageA cultura de jogos de tabuleiro, antes bem underground, hoje ganha mais e mais espaço, seja nas nossas livrarias, em eventos específicos ou até mesmo em lanchonetes temáticas. Estudando um pouco sobre o assunto, há uma (saudável) rivalidade entre os criadores desses jogos, o que deve ter inspirado o autor argentino Pablo de Santis a escrever a obra homônima no qual este “O Inventor de Jogos” foi baseado.

Roteirizado e dirigido por Juan Pablo Buscarini, que tem mais experiência como produtor do que em qualquer dessas funções, este longa é uma experiência um tanto quanto frustrante pelo seu potencial mal aproveitado. Na trama, o jovem Ivan Drago (David Mazouz) se descobre um exímio criador de jogos de tabuleiro, o que o coloca no radar do perigoso Morodian (Joseph Fiennes), um inventor de jogos com uma rixa histórica com a família Drago.

Arrastado para este jogo real, onde sua vida é o tabuleiro, Ivan tem pouco tempo para descobrir o que aconteceu com seus pais (Tom Cavanagh e Valentina Lodovini) e recuperar o controle de seu destino, contando com a ajuda da sempre disfarçada menina Anunciação (Megan Charpetier), de um falso Ivan (Ivan Masliah) e de seu avô Nicholas Drago (Ed Asner).

A despeito de um forte primeiro ato, com uma hábil apresentação dos personagens centrais, especialmente de Ivan, vivido com carisma pelo pequeno Dacid Mazouz, é no segundo ato que a situação começa a se complicar. Isso porque o diretor/roteirista não consegue conduzir a história de maneira orgânica, com personagens aparecendo e sumindo de maneira brusca e sem lógica.

Ademais, somente no terceiro ato temos um confronto entre Ivan e Morodian e mesmo este acaba prejudicado pelos maneirismos exagerados de Joseph Fiennes (algo que já incomodou muito em “Hércules”, aliás). Com toda essa pressa para apresentar acontecimentos e personagens novos a cada dez minutos, o longa acaba sem tempo para explorar melhor o próprio Ivan, com o guião não provendo muitos motivos para o público se importar com o destino do menino.

O mesmo vale para os demais personagens, que mal ganham tempo de tela para serem lembrados pelo público. Em compensação, o visual da fita é bastante interessante, especialmente por ter um design mais cartunesco, o que combina com o tom de fábula quase sombria imposto dura te a narrativa. A fotografia, antes puxada para contes fortes, mergulha em tons mortos após certo evento traumático. Já a trilha sonora é deveras genérica, com o compositor Keith Power jamais capturando devidamente o espírito aventuresco e juvenil da jornada de Ivan deveria possuir.

O excesso de personagens e situações acaba por gerar tanto barulho que a trama principal resta confusa, com o espectador médio se vendo em meio a um samba do dado louco que parece interminável. Um verdadeiro milagre, considerando que o filme tem cerca de 90 minutos…

Thiago Siqueira
@thiago_SDF

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