Diretor estreante faz um recorte interessante, ainda que irregular, da juventude de escritores americanos.
Jack Kerouac, Allen Ginsberg, David Kammerer e William Burroughs estão entre alguns dos mais importantes escritores americanos. O trabalho de contestação deles deu origem à contracultura e ao movimento beat, que ganhou força na América nos anos 1960. No entanto, antes de atingirem tal relevância na literatura, um crime na década de 40 ligou suas vidas de forma indelével.
O o diretor estreante John Krokidas (que assina o roteiro com o também estreante Austin Bunn) faz esse recorte, desde quando Allen (Daniel Radcliffe) entra na faculdade de Columbia. Lá, ele conhece o excêntrico e sofisticado Lucien Carr (Dane Deehan), seu mentor David Kammerer (Michael C. Hall) e outros amigos, entre eles Jack Kerouac (Jack Huston) e William Burroughs (Ben Foster). Allen rapidamente se apaixona por aquele estilo de vida, baseado em um intenso consumo de drogas, bebidas e sexo, sempre com a intuito de contestação e a criação de uma nova forma estilística para a poesia americana.
O roteiro foca especialmente na construção do relacionamento entre Lucien e Allen. Esse relacionamento se sustenta, além do ótimo texto, na boa química entre o elenco, principalmente na atuação de Deehan e Radcliffe. Além de transparecerem uma amizade real, também existe uma tensão sexual constante entre os dois, como fica visível no voto silencioso feito com sangue ou quando tentam conseguir um objeto importante na biblioteca.
Além disso, os atores têm um excelente desempenho individual. Deehan, que parece estar se especializando em personagens estranhos e atormentados, constrói Lucien como um jovem obcecado, com problemas de autoridade e grande apreço pelas boas coisas da vida, como vinhos, cigarros e outras drogas. Ele também é alguém sem qualquer remorso quando se trata de usar outras pessoas para atingir seus objetivos.
Radcliffe tem uma performance igualmente intensa. O ator consegue transmitir com perfeição a bagunça de sentimentos que nutre por Deehan. Ao mesmo tempo que admira o amigo, como alguém que tem a coragem e iniciativa de fazer coisas que ele nunca teria coragem, Allen também tem um ciúme quase doentio quando percebe que está sendo deixado de lado. Também merece destaque a coragem do ator por se desprender totalmente da imagem de ídolo adolescente em uma profunda entrega a seu personagem.
Infelizmente, nem tudo são flores. Apesar de uma história interessante e com bons diálogos, a condução deixa um pouco a desejar. O ritmo é sempre lento, com certos trechos da narrativa muito longos e enfadonhos. Ainda que alguns recursos sejam criativos e bem utilizados, como a metalinguagem de fazer com que algumas cenas ocorram no sentido inverso ou o ponto de vista de Allen sob efeito dos entorpecentes, eles são usados em excesso, o que deixa a fita repetitiva.
Nem mesmo os bons aspectos visuais da direção de arte, como a evolução dos figurinos dos personagens ou a excelente recriação de época, conseguem manter o interesse no que se passa em tela. Felizmente, o longa volta a ser interessante em seu terceiro ato, quando o destino de todos precisa ser conectado. O único problema é que até chegarmos lá, o sentimento é que a projeção durou três vezes mais que o necessário.