Esta adaptação do livro de James Dasher apresenta mistérios interessantes o bastante para sobreviver a um protagonista pouco carismático e a um gancho relativamente insatisfatório.
A febre das adaptações para o cinema de livros voltados para o público de “jovens adultos” parece não ter fim, mesmo com poucas destas franquias alcançando o mesmo êxito comercial de “Crepúsculo” ou “Jogos Vorazes”. Agora, é a 20th Century Fox que investe suas fichas em “Maze Runner – Correr ou Morrer”, em uma aposta complicada, tendo em vista se tratar de uma produção comandada por um diretor praticamente estreante, escrita por roteiristas sem muita experiência e estrelada por um elenco desprovido de astros conhecidos.
Felizmente para os cinéfilos e para o estúdio, o saldo da empreitada é até positivo, especialmente porque o cineasta escolhido, Wes Ball, foi bem sucedido em criar uma atmosfera claustrofóbica e um senso de urgência para uma trama que, embora montada com elementos facilmente reconhecíeis de outras obras, consegue manter o público instigado em seu desenvolvimento.
O adolescente Thomas (Dylan O’Brien) desperta em um elevador industrial no meio de uma clareira, sem memórias e com uma caixa de mantimentos. Encontrado por outros garotos já estabelecidos por lá, o rapaz se vê obrigado a se integrar na sociedade criada pelos prisioneiros, que vivem à sombra de um gigantesco labirinto, guardado por criaturas bio-mecânicas chamadas de Verdugos. Em sua busca por um meio de escapar, Thomas acaba com a rotina estabelecida pelos demais cativos, algo não muito bem aceito por todos.
Trabalhando em cima do livro escrito por James Dashner, os roteiristas Noah Oppenheim, Grant Pierce Myers e T.S. Nowlin se apoderam de situações vindas de outras obras, como “A Alegoria da Caverna”, “O Senhor das Moscas” e da série “O Prisioneiro”, para criarem uma narrativa que, mesmo aos trancos e barrancos, envolve o público.
Isso funciona por conta do suspense criado sobre a natureza da Clareira, do Labirinto, do motivo dos rapazes presos lá e a ligação disso tudo com o aparecimento de Thomas e de Teresa (Kaya Scodelario), a primeira garota cativa do local – e, ao menos neste primeiro ato, não há grandes triângulos amorosos que acabem por atrapalhar o avanço da história central – o que é um alívio.
Por mais que alguns os personagens sejam esquemáticos (o novato misterioso, o líder, o garotinho amável, o melhor amigo, o rival…) as funções que eles ocupam no mistério geral é mais importante que seus individuais. No caso, Alby (Aml Ameen), o líder, tem de apresentar a Thomas (e ao público) das regras da Clareira e a estrutura da sociedade juvenil ali criada, com castas e funções diferentes, aproveitando os talentos de cada um e as necessidades da coletividade. Após sua função narrativa se esgotar, ele é prontamente retirado de cena até ser útil novamente.
Mas é o rival de Thomas, Gally (Will Pouter) que exemplifica melhor isso, justamente por ocupar na trama a função do acorrentado na “Alegoria da Caverna” de Platão, daquele que esta tão preso ao sistema ao seu redor que fará de tudo para mantê-lo, mesmo se isso significar continuar preso.
Por isso que Pouter acabou com um trabalho mais interessante que o de Dylan O’Brien. Enquanto o protagonista é uma folha em branco, preenchida com contornos heróicos e abnegados conforme a história avança, com O’Brien se mostrando pouco carismático, o Gally de Pouter é o prisioneiro trágico, que adotou sua prisão como uma extensão de si. Pouter pode não ser o mais expressivo dos atores, mas acaba como o mais memorável do filme.
Por conta do orçamento relativamente exíguo da fita, a direção de arte se mostra adequadamente minimalista, embora um pouco mais de desgaste nas estruturas da clareira teria sido melhor. É uma pena que a resolução (ao menos parcial) do mistério se mostre tão anticlimatica, com a fita terminado em um gancho que, por enquanto, não faz muito sentido. Em alguns momentos, os aracnídeos verdugos lembram um pouco os sentinelas de “Matrix” (o que não deixa de ser engraçado, pois se trata de outra série que bebeu muito de Platão). O lançamento em IMAX do filme mostra o bom trabalho no desenho de som da produção, que realmente ganha maior destaque no formato, embora o visual não utilize muito bem a tela grande característica do IMAX.
Mas, ao menos até os seus cinco minutos finais, este “Maze Runner – Correr ou Morrer” desperta a curiosidade e o interesse do espectador e, quem sabe, sua continuação possa dar algum rumo para o futuro da série.