Longa conta uma história batida, mas que não por isso é menos eficiente, tendo em Ruffalo e Knightley sua principal força.
O grande público em Hollywood adora histórias que sirvam para renovar sua fé no mundo e na humanidade. Aquelas histórias batidas de superação e descoberta interior que fazem o indivíduo crescer e se tornar uma pessoa melhor, resolvendo todos os seus problemas internos e com aqueles que o cercam. Basta ver as inúmeras comédias românticas do circuito comercial, ou mesmo ligar a TV em canal aberto quando está passando um filme durante a tarde. É o filme fórmula de bolo, a segurança de muitos produtores de que terão razoável retorno financeiro. Mas, verdade seja dita, quem de nós não gosta?
Escrito e dirigido pelo irlandês John Carney, “Mesmo Se Nada Der Certo” conta uma dessas histórias. Gretta (Keira Knightley) é uma jovem inglesa que se muda para Nova York e vê a vida ao seu redor desmoronar quando é deixada pelo namorado Dave Kohl (Adam Levine), um astro pop em ascensão. Sua esperança é renovada quando conhece Dan (Mark Ruffalo), um produtor musical fracassado de meia-idade que decide apostar em seu talento após vê-la fazendo uma pequena performance em um bar da cidade.
Formulaico, em nenhum momento o filme nos apresenta algo de muito novo em termos de cinema. É um enredo que segue basicamente a mesma linha que vários outros do mesmo estilo já traçaram. Mas nem por isso é menos eficiente. A estrutura fragmentada e não linear do primeiro ato, por exemplo, é uma ferramenta interessante para nos apresentar àqueles personagens e todo o drama que carregam consigo. Desta forma, o longa não perde tempo com grandes explanações enfadonhas sobre o passado dos indivíduos e parte logo para o que de fato interessa, a jornada de autodescoberta de Dan e Gretta.
Assim, é interessante notar como Mark Ruffalo e Keira Knightley realizam um trabalho digno para seus personagens, ainda que as “caras e bocas” desta segunda continuem soando desnecessárias em alguns instantes, especialmente no sotaque altamente carregado. Mas, de um modo geral, ambos conseguem criar personagens multidimensionais sem apelar para o overacting, com composições minimalistas, apenas com o peso de um olhar ou de um gesto. A forte química entre os dois transborda a tela, construindo um doce romance que, apesar de agudamente sugerido, nunca chega a se concretizar.
Pelo contrário, o “romance” que de fato se concretiza é o de cada um consigo mesmo, com seu ‘eu’ interior. À medida que a projeção avança, os sujeitos que se encontram no bar no início da película vão aos poucos deixando de serem pessoas amargas e machucadas para fazerem as pazes com a vida. Dan vai resolvendo seus problemas com a ex esposa Míriam (Catherine Keener) e também com a filha adolescente Violet (Hailee Steinfeld), e Gretta vai enfim superando as dificuldades pós término do relacionamento com Dave. Tudo isso tendo a música como a grande enzima catalisadora de todas essas reviravoltas.
Justamente por ser razoavelmente previsível, não apresentando grandes “plot twists” em sua narrativa, o longa perde parte da sua força quando o analisamos como um todo. É legal, divertido, carismático, com uma direção correta e bem atuado. Mas falta aquele algo a mais que o destaque como uma obra verdadeiramente marcante, que a diferencie das diversas outras histórias felizes de superação e autodescoberta que surgem em Hollywood a rodo todos os anos. Bom, porém nada de muito especial.