Sem ritmo algum e recheado de clichês do gênero, longa falha de forma colossal ante suas principais aspirações dramáticas.
Alguns “truques” ficaram consagrados na história do gênero terror/suspense no cinema para impressionar o público. Olhar pelo buraco da fechadura, o mocinho que na verdade é o louco, a escuridão tomada apenas por uma luz fraca, os enquadramentos claustrofóbicos, mais recentemente a câmera na mão, cortes bruscos, enfim. São muitas as ferramentas que usam para nos assustar e que todos já temos conhecimento. O que diferencia um filme bom do ruim nesse caso é a capacidade dos realizadores de combinar esses elementos de modo a não soar repetitivo ou clichê, tendo como pano de fundo uma história minimamente consistente. O que, infelizmente, não é o caso deste “Isolados”, que usa e abusa de tudo o que há de mais piegas e batido no gênero sem qualquer tipo de estrutura narrativa. É uma bagunça completa.
A história acompanha a viagem de Lauro (Bruno Gagliasso) e Renata (Regiane Alves), um casal em aparente crise que resolve se isolar em uma casa rústica no meio do mato para fugir um pouco do estresse do dia-dia. No meio do caminho, em um bar de beira de estrada, Lauro é avisado de que macabros assassinatos estão acontecendo na região, mas decide não contar à sua parceira, uma instável ex-paciente da clínica de psiquiatria onde ele trabalha, e segue viagem. Evidente que o mínimo que algum indivíduo mais consciente faria em uma situação como essa seria se informar melhor e buscar meios de pedir ajuda em alguma emergência. Mas não, Lauro prefere se esconder no meio do mato, justamente onde os crimes acontecem, com uma instável Renata e sem qualquer tipo de comunicação com o “mundo externo”. A partir daí, já fica bastante desenhado todo o desenrolar do filme, numa sucessão de pieguice que chega a doer na alma cinéfila de qualquer um. Mas há coisa pior.
Escrito pela filha de José Wilker (que faz uma pequena participação em sua última aparição no cinema), Mariana Vielmond, o longa não demonstra sequer um mínimo de estrutura narrativa coesa. Começando no meio de um dos assassinatos ocorridos na região, algo bastante comum para obras do gênero, logo depois saltamos uma semana à frente, na já citada cena no bar da estrada, quando Lauro obtém todas as informações de que precisa para se precaver, mas prefere seguir adiante. Em seguida, voltamos bastante tempo para uma cena da clínica de psiquiatria onde vemos uma conversa entre Lauro e o personagem de José Wilker sobre o estado de uma paciente que acredita estar morta. Mais a frente, chegamos a regredir incríveis vinte e cinco anos apenas para mostrar uma cena de 10 segundos que “justifique” a instabilidade de Renata. Isso tudo transitando em paralelo com a investigação policial no presente sobre os crimes cometidos na região. Quer dizer, é de uma desorganização absurda, impedindo que o espectador “entre” no filme e se conecte com todo aquele drama.
Sobre a trama em si, é aquilo que já vimos dezenas de vezes anteriormente, como já citado. Neste sentido, basta olhar o cartaz para perceber que o filme bebe quase que descaradamente da fonte de obras como “Ilha do Medo” e também “O Sexto Sentido”. Nada de errado, muito pelo contrário, desde que as homenagens e referências fossem feitas de um modo mais cuidadoso, apoiando-se em roteiro menos cheio de buracos e pontas soltas, bem como em uma direção mais discreta, que não tente chamar a atenção para si o tempo inteiro. Tomás Portella (“Todo Gato Vira Lata”) abusa de cortes rápidos, mudanças bruscas na direção da câmera e ângulos inclinados. Até alguns establishing shot, aqueles planos mais gerais utilizados para identificar um ambiente, são filmados sob uma ótica inclinada. Algo exagerado e que de certa forma denuncia a fragilidade da história, como se os realizadores quisessem compensá-la com firulas desnecessárias.
Com uma fotografia óbvia e uma trilha sonora que apenas reforça os momentos de susto, temos um longa realmente maçante e que ao invés de trabalhar para construir esses momentos de forma mais orgânica, prefere inseri-los no enredo sem qualquer objetivo prático. Recheado de boas intenções, a verdade é que a melhor parte de “Isolados” é o seu final, quando os créditos sobem, as luzes começam a acender lentamente na sala e surge uma homenagem em tela ao grande José Wilker, que nos deixou esse ano. Ainda que seja apenas uma ponta, em um papel nada importante, Wilker merecia uma última aparição em uma obra mais digna.