Em sua segunda investida no cinema, Seth MacFarlane apresenta um longa que traz, de forma irônica, as várias mazelas de uma época não tão distante, mas falha quase que totalmente no humor.
Seth MacFarlane é ator, dublador, animador, roteirista, comediante, produtor, diretor e cantor. Um artista multifacetado que conquistou a TV estadunidense e migrou para o cinema com o querido, mas politicamente incorreto “Ted” (2012). E agradou bastante, já que seu longa de estreia teve uma enorme repercussão e rendeu ótima bilheteria mundial, garantindo uma sequencia e abrindo de vez as portas da sétima arte para MacFarlane. Assim, tendo da Universal o sinal verde para fazer o projeto que bem entendesse, o sujeito juntou ideias antigas e escreveu o roteiro desse novo e intrépido “Um Milhão de Maneiras de Pegar na Pistola” (outro terrível título nacional), que não mantem o nível do anterior, mas possui suas principais características.
Na intenção de novamente realizar algo que, mesmo divertindo, incluísse um distinto cinismo latente, sua marcar registrada, o autor tentar expor as mazelas da antiga sociedade norte-americana, através de uma comédia que tem como função básica homenagear as vertentes do gênero western e trazer para aquela época um personagem aos moldes atuais.
Exatamente o caso do fazendeiro Albert Stark (Seth MacFarlane), um covarde que namora a suntuosa Louise (Amanda Seyfried), mas por ser um tremendo fracassado é abandonado pela garota. Ao mesmo tempo vemos a aparição do impiedoso vilão Clinch Leatherwood (Liam Neeson) – óbvia alusão a Clint Eastwood – e sua belíssima esposa Anna Barnes-Leatherwood (Charlize Theron), que vive atormentada pelo marido e seus capangas. Pela ironia do destino, Albert e Anna acabam se cruzando e mais tarde vão se ajudar.
Ainda que tenha um bom ritmo e sua história central seja bem contada, a fita possui um gravíssimo problema que logo nos primeiros minutos é percebido e julgado pelo espectador: seu estilo de humor. Mesmo contendo as inúmeras gags já utilizadas por MacFarlane durante toda carreira, as piadas aqui são absolutamente deslocadas e aborrecidas. Algumas pintam tão bobocas que facilmente poderiam ser comparadas ao humor genérico dos pastelões. Talvez piores, pois soam medíocres e ultrapassadas dentro do cenário atual. E, se tratando de uma comédia, não fazer rir é um pecado imperdoável, por melhor que seja ideia.
Pois sim, temos aqui boas sacadas, e como disse antes, o diretor conduz bem sua trama e cria uma narrativa que transita organicamente nos três atos – mesmo prolixo por ter quase duas horas de duração. Entretanto podemos destacar outros pontos positivos: os inúmeros planos que homenageiam clássicos do western spaghetti, como “Eram Uma Vez no Oeste” (1968) e “Três Homens em Conflito” (1966), funcionam; um surpreendente crossover com o terceiro “De Volta Para o Futuro” (1990) irá empolgar; a trilha sonora assinada por Joel McNeely carrega um clima de aventura e nos faz lembrar o eterno Professor Jones; ou mesmo a dupla MacFarlane e Theron, que pareciam se divertir em cena, tiveram uma forte química.
Tentando ridicularizar qualquer linha pensamento saudosista, por exibir o preconceito e burrice natural daquele período, onde não se abria brecha nem mesmo pra sorrir numa fotografia, o cineasta até tenta, mas não impetra êxito total, isso por seu trabalho falhar em vários tópicos fundamentais para a trama. MacFarlane dá impressão de ser um autor de nichos, que é dinâmico em sua área e eficaz num determinado estilo, porém quando se arrisca em subgêneros acaba perdendo a mão e errando feio. Esperamos que em “Ted 2” (2015) as coisas voltem aos eixos.