Refilmagem francesa aposta em efeitos especiais e ritmo de aventura, no melhor estilo filme pipoca.
Desde o Século XVIII, o conto de fadas “A Bela e a Fera” habita a mente de pequenos (e dos já nem tão pequenos assim). No cinema, a hoje clássica versão de Jean Cocteau, em 1946, abriu caminho para as mais variadas releituras, da tradicional animação da Disney no início dos anos 1990 ao moderninho e insosso “A Fera”, versão estrelada por Vanessa Hudgens em 2011. Agora foi a vez de o diretor Christophe Gans trazer à telona sua visão do conto.
Gans aposta então em algo que soa óbvio, mas que o espectador ainda não tinha visto. Trata-se do potencial da história de ser um blockbuster se refilmada tendo como foco todos os elementos nela cristalizados ao longo das décadas, mas contando com recursos da linguagem fílmica que o modernizassem para o público jovem atual. Dessa maneira, tem-se a doçura da protagonista, Bela (Léa Seydoux), mas também se têm a inserção de vários efeitos especiais e um ritmo de montagem que lembra facilmente o das grandes franquias hollywoodianas como “Harry Potter” e “O Senhor dos Anéis”.
Verdade seja dita, o componente visual e tecnológico acaba sendo o grande destaque desse “A Bela e a Fera”. Ainda que os efeitos visuais corroborem com certa artificialidade, eles se encaixam ao universo fantástico da trama, ao passo que casam também com a fotografia e a direção de arte, ambas calcadas no que há de mais clichê quando se pensa em contos de fada transpostos para a tela grande. Pelo menos nesse caso, o conforto causado pelos ditos clichês não soa como comodismo, mas como escolha estética para mostrar algo que várias gerações de espectadores imaginaram, mas nunca de fato tiveram a chance de guardar na memória depois de terem visto no cinema.
Dito isso, o trabalho com o figurino merece igual destaque. Os trajes de Fera (Vincent Cassel) são absolutamente fantásticos, repleto de detalhes, ao passo que os vestidos de bela vão dos simples e em tons terrosos, quando reclusa no campo com a família, passando para os pomposos e coloridos, quando “refém da fera”. Como de praxe, o uso das cores e texturas auxilia a criar um quadro psicológico e emocional dos personagens. Fera está sempre envolto de tons de vermelho, indicando algo sobre sua natureza impulsiva para além de suas feições bestiais, enquanto Bela vai do branco, logo após sua chegada como vítima inocente, ao vermelho, quando o seu laço com Fera começa a, de fato, formar-se.
Como filme pipoca, “A Bela e a Fera” cumpre com o que parece ter proposto e com certeza agrada ao público em geral. Porém, falta ao filme a “poção mágica” que lhe daria o potencial de se tornar clássico como o parente distante de 1946 ou mesmo como a animação da Disney de 1991. Em parte, isso se deve à interação de Seydoux e Cassel. Depois de tantos papeis fortes e memoráveis, a bela atriz francesa não traduz toda a impetuosidade de sua personagem, o que acaba destoando do parceiro protagonista, que constrói de maneira sutil a natureza impetuosa de seu Fera.
Prós e contras na balança, esse “A Bela e a Fera” resulta em um filme divertido e eficiente, principalmente quando se pondera acerca das opções adequadas ao público infantil, alvo primordial de um conto de fada adaptado ao cinema, mas não mais que isso.