Mesmo contando com um visual e animação extremamente competentes, este novo filme de Seiya e companhia é derrubado por um roteiro apressado e repleto de buracos.
Antes da crítica, uma confissão: faço parte da geração que, há 20 anos, fez de “Os Cavaleiros do Zodíaco” um dos maiores fenômenos da televisão brasileira. Essa série animada, baseada no mangá “Saint Seiya”, obra máxima de Masami Kurumada, misturava mitologia grega, armaduras bacanas e as constelações zodiacais.
A franquia pegou a América Latina e a Europa de assalto (no Japão, tem um sucesso mais moderado) e até hoje é extremamente rentável, contando com séries derivadas, games e diversas linhas de colecionáveis. Com Kurumada completando quatro décadas de carreira em 2014, a Toei Animation viu uma boa oportunidade para um reboot cinematográfico, tendo como mote o arco da Batalha das 12 Casas, com toda a pampa e tecnologia.
Surgiu então este “Os Cavaleiros do Zodíaco – A Lenda do Santuário”, fita com a complicada missão de agradar fãs antigos e conquistar novos espectadores para a franquia. A tarefa se mostra mais complicada pela obrigação autoimposta dos realizadores de comprimir mais de 50 episódios do seriado em um filme de uma hora e meia.
A colegial Saori Kido descobre-se como a reencarnação da deusa grega Atena na Terra. Protegida por um quinteto de jovens cavaleiros de bronze, liderados pelo valente Seiya, a jovem se torna alvo do Grande Mestre, que vê nela uma ameaça para seus planos de conquista. Manipulando os cavaleiros de ouro, que deveriam ser a guarda de elite de Atena, o vilão inicia uma batalha pelo destino do mundo e que colocará os cavaleiros do zodíaco em guerra uns contra os outros.
Com os cinco heróis, Saori e os cavaleiros de ouro, tem-se tantos personagens para desenvolver em tão pouco tempo de projeção que obviamente alguns iriam sofrer com a falta de tempo de tela. Nisso, apenas o determinado (e surpreendentemente atrapalhado) Seiya e sua protegida Saori ganham um arco mais aprofundado, incluindo um breve flashback que dá respaldo à fidelidade do jovem para com a garota e mostra mais da vida isolada que esta última teve.
Shiryu tem sua persona mais séria exposta por duas boas tiradas (uma envolvendo sua armadura e outra um diálogo expositivo) e Hyoga, mesmo com uma luta própria, acaba sendo mais estilo que conteúdo, até porque seu relacionamento paternal com Kamus de Aquário se torna quase uma nota de rodapé. O mesmo pode ser dito de Shun e Ikki, coadjuvantes de luxo que não afetam em nada o desenrolar da história, com este último surgindo basicamente para dizer frases de efeito e só.
Já dentre os dourados, apenas Mu, Aioria e Aldebaran são bem aproveitados. Máscara da Morte está terrivelmente descaracterizado e ganha um número musical (!) que não combina em nada com o resto do filme, em uma cena não apenas deslocada, mas também ridícula.
Jamais entendemos muito bem as motivações do Grande Mestre para seus planos porque o roteiro esquece de dar qualquer foco à sua dualidade ou mesmo à rivalidade deste com Aioros de Sagitário, justamente o fato que deu início à trama. Dado o nível de poder dos cavaleiros de Ouro, o roteiro cria uma saída nada satisfatória para tirá-los de cena enquanto o duelo final se desenrola, gastando tempo de projeção precioso. Sem contar que, no final do segundo ato, certo personagem acaba teleportado do nada para outra das “casas”.
A animação, contudo, é linda. Os cenários são espetaculares (mesmo com a arquitetura do Santuário não fazendo muito sentido prático) e os design das armaduras e dos personagens funcionam muito bem na telona, embora algumas sejam excessivamente adornadas. O toque místico-tecnológico da direção de arte é corrente com a proposta da franquia. Os efeitos dos golpes impressionam, com os combates misturando elementos de energia e corpo a corpo muito bem.
Visualmente interessante, mas prejudicada por um script corrido e cheio de furos, que sequer se preocupa em dar uma despedida digna aos personagens (a não ser em uma também deslocada cena pós-créditos), esta homenagem à franquia e seu criador tem boas ideias que acabam se perdendo por serem desenvolvidas nas coxas.