Channing Tatum e Jonah Hill voltam em grande estilo para uma continuação que mantêm a qualidade do longa anterior.
Alguém já disse que uma das melhores formas de fazer humor é a capacidade de rir de si mesmo. Esse conceito pode ser transferido para o cinema com facilidade. Muitas vezes, um filme que tinha tudo para ser visto como uma obra medíocre consegue atingir um bom resultado pela capacidade de não se levar a sério. Isso normalmente funciona bem, desde que fique claro para o espectador, desde o início, tal intenção.
Entre as produções que se valeram de tal ideia estão os clássicos “Corra que a Polícia Vem Aí” e “Apertem os Cintos, O Piloto Sumiu”. Um bom representante recente é “Anjos da Lei”, adaptação para os cinemas da série homônima dos anos 1980, lançado em 2012. A repercussão, tanto de crítica quanto de público, foi tão boa que a atrapalhada dupla formada pelos policias Schmidt (Jonah Hill) e Jenko (Channing Tatum) volta à ação nesta comédia igualmente divertida.
A trama, como dita pelo chefe de polícia Hardy (interpretado pelo excelente Nick Offerman), é exatamente igual a do filme anterior: os dois policiais precisam se infiltrar em uma instituição de ensino para desmantelar uma quadrilha de traficantes que estão espalhando uma nova droga entre os alunos. Essa é apenas uma das piadas baseadas em metalinguagem tão presentes ao longo da projeção, como a comparação do escritório do Capitão Dickson (Ice Cube) a um cubo de gelo ou quando alguém explica que a receita do sucesso é explorar uma fórmula eficiente à exaustão.
E é curioso como o roteiro consegue seguir essa fórmula à risca, sem jamais soar cansativo ou enfadonho. Quase todas as melhores cenas remetem a cenas semelhantes do primeiro episódio da franquia: perseguições, explosões, diálogos engraçadíssimos e sequências cômicas de tirar o fôlego, especialmente a revelação de um importante segredo entre Schmidt e o Capitão Dickson e a visita à cadeia a um personagem mutilado na última aventura da dupla.
No entanto, todos os exageros e bizarrices do roteiro não funcionariam não fosse pela química e timing cômico perfeito de quase todo o elenco, com exceção feita aos antagonistas, o Fantasma (Peter Stormare, em uma participação aborrecida e descartável) e Mercedes (Jillian Bell), colega de quarto de Maya (Amber Stevens), que tem uma implicância gratuita e antipática por Schimdt.
Já Jonah Hill e Channing Tatum esbanjam carisma e entrosamento ainda maior do que antes, completamente à vontade em seus personagens. Ice Cube parece se divertir em cada ofensa e palavrão que profere, carregando no sotaque afro-americano, enquanto Dave Franco e Rob Riggle roubam a sua pequena cena. Wyatt Russel, que interpreta Zook, o novo melhor amigo de Jenko, cumpre bem seu papel, ainda que sem grande destaque.
Os diretores Phil Lord e Christopher Miller conduzem o script de Michael Bacall com igual competência e segurança, tanto nas inventivas cenas de ação quanto nas inusitadas sequências de humor. Vale ainda uma menção honrosa à equipe de montagem, que mantém o ritmo frenético constante, além realizar criativas fusões de tomadas.
“Anjos da Lei 2” é um grande alento para o gênero, em um ano abarrotado de produções de gosto duvidoso (ou lamentável), além de se tratar de uma comédia adulta que consegue fugir do desagradável novo padrão hollywoodiano que parece ter como único tema a ideia de casamento e filhos como a pior decisão na vida de uma pessoa.