Cinema com Rapadura

OPINIÃO   domingo, 24 de agosto de 2014

Sex Tape – Perdido na Nuvem (2014): percalços da vida moderna

Elenco afiado e história simples garantem as risadas.

Sex TapeCom o advento das redes sociais, todos são potenciais estrelas da Internet. Basta alguém ter alguma ideia inovadora, dar uma nova roupagem a algo que está (ou esteve) em evidência ou passar por uma situação com níveis estratosféricos de vergonha pública. E entre os vexames desta última categoria, ocupam o primeiro lugar os vídeos de sexo. Impossível ficar indiferente ao fato de ter um vídeo íntimo publicado na rede. E os efeitos são sempre extremos. Podem levar, nos piores casos, à destruição da vida das pessoas envolvidas (como alguns casos no Brasil nos últimos anos) ou as transformar em “celebridades “ instantâneas, como Kim Kardashian.

Diante dessa realidade, o diretor Jake Kasdan leva às telas o roteiro escrito por Kate Angelo, Jason Segel e Nicholas Stoller com a história de Jay (Jason Segel) e Annie (Cameron Diaz). Um casal perto dos quarenta anos – (ele, produtor musical, ela, dona de casa e blogueira) que decide, para tentar apimentar a relação, gravar um vídeo com suas peripécias na cama (e no tapete, sofá ou cozinha). O objetivo é atingido com total sucesso, no entanto, por conta de um aplicativo de sincronização automática instalado no tablet de Jay, o vídeo é acidentalmente enviado para todos os outros aparelhos que ele costumava presentear as pessoas à sua volta.

Além do pânico causado pela possibilidade de amigos, familiares (e até mesmo o carteiro) assistirem ao seu espetáculo íntimo, o casal precisa impedir que um provável chantagista, que envia misteriosas mensagens de texto, suba o vídeo para sites especializados, o que prejudicaria a venda do blog de Annie a um conservador fabricante de produtos infantis.

O grande acerto do filme está nos protagonistas. Não que o resto do elenco não realize um bom trabalho, muito pelo contrário. Além do casal Robbie (Rob Corddry) e Tess (Ellie Kemper), melhores amigos de Jay e Annie, que enfrentam o mesmo problema de uma relação que está perdendo a chama nos últimos anos, Hank (o tal interessado no blog de Annie) é interpretado por Rob Lowe de forma solta, em uma performance perfeitamente balanceada, andando na linha tênue entre o cômico e o ridículo. E, para completar o elenco, surge uma figura (melhor não citar o nome, para não estragar a surpresa) em um papel, certamente, escrito especialmente para ele.

Apesar da limitação de seus talentos, os protagonistas possuem uma química perfeita. Além do excesso de palavrões, Segel abusa de seu humor físico, repleto de caretas, quedas e escorregões, ao passo que Diaz exibe, além de sua beleza (com destaque para a cena em que surge calçando patins), um perfeito timing, especialmente nas cenas em que participa de uma pequena comemoração com seu possível cliente.

Infelizmente, o roteiro, apesar de acertar nas piadas, vacila em alguns momentos, como a revelação de quem é o chantagista misterioso que, além de fraca, é mal desenvolvida. Outro ponto que, pela insistência, acaba se tornando aborrecido é a aparente necessidade dos roteiristas de enfatizar a cada cinco minutos como o fato de ter filhos inevitavelmente se torna algo prejudicial para a vida de um casal.

Outro ponto que chama a atenção é a falta de coragem dos realizadores em exibir alguma nudez, exceto pelo exibicionismo constante de Jason Segel. Não que tal elemento fosse primordial para o sucesso da fita, mas seria um pouco mais condizente com seu próprio conteúdo. Com isso, ao invés de uma boa comédia voltada para o público adulto, a obra resulta, além de um imenso merchandising de uma determinada empresa de tecnologia, apenas em um passatempo divertido.

David Arrais
@davidarrais

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