Romance tem clima trágico de faroeste e fotografia exemplar, mas a falta de elementos atraentes no roteiro acabam por tornar a proposta insossa e arrastada.
A vida no Texas do cinema nunca foi fácil: sejam bandidos invadindo saloons, apaches ameaçando as fronteiras ou assassinos com serras elétricas perseguindo jovens viajantes, a representação da beleza dos desertos locais sempre esteve equiparada a um caráter opressor e temeroso. E não é para menos. A região sempre foi conhecida por uma história repleta de conflitos e por uma população extremamente conservadora.
Tais características, porém, favoreceram o surgimento de interessantes produções cinematográficas de todos os gêneros, sempre com uma pitada da pimenta texana, que põe a todos em perigo, até o mais valente cowboy. E nem jovens casais tem esse luxo, como mostrado em “Amor Fora da Lei”, a segunda empreitada do montador David Lowery na direção.
A trama acompanha Bob Muldoon (Casey Affleck) e Ruth Guthrie (Rooney Mara), um casal de assaltantes que tem seu destino mudado abruptamente quando ela descobre que está grávida e ele acaba preso após um conflito com a polícia. Durante seu longo período na prisão, os dois se comunicam apenas por cartas, que ocupam um generoso tempo de tela com planos detalhe e vozes em off, até que Bob consegue escapar. Indo de encontro à esposa e ao sonho de uma vida nova sem crimes, ele se depara com percalços que reafirmarão o motivo de sua caminhada.
Uma jornada que, desde os primeiros minutos, sabemos que pode terminar mal. O clima tenso e opressor de um típico faroeste toma conta de toda a projeção. Não uma típica tensão passageira, mas uma sensação descendente que leva a poucas expectativas. A constante presença de sons diegéticos que exaltam o farfalhar da vegetação e animais locais contribui para esta tensão, dando uma impressão de vazio e espera e, mais do que isso, de uma certa decepção.
Toda essa atmosfera é reforçada pela fotografia em tons amarelados, que evoca ao mesmo tempo o caráter da lembrança de antigas promessas e a aridez do ambiente. Em um trabalho de fotografia espetacular, o diretor Bradford Young utiliza frequentemente o jogo de luz e sombras para criar planos belíssimos e cheios de significado, por exemplo, ao ressaltar a misteriosa dualidade do personagem de Ben Foster, cujos objetivos parecem permear entre um interesse amoroso por Ruth e o cumprimento do dever e a proteção da mesma.
O roteiro alterna momentos melancólicos e outros mais carregados e constrói a tensão de maneira bastante efetiva (todas as cenas com o personagem de Keith Carradine são de tirar o fôlego), mas sua estrutura fica comprometida quando o segundo ato se torna extremamente monótono. Apresentando barrigas em excesso, a narrativa simplesmente parece não se desenvolver e seus poucos 90 minutos dão a impressão de se estenderem por mais tempo.
A trilha sonora, entretanto, é a verdadeira estrela do longa. Totalmente calcada no típico country texano, dedilhados de banjo e acordes de violão complementam a atmosfera sem o didatismo presente em trilhas atuais, com destaque para uma cena de ameaça em um balcão. E se a trilha incidental complementa sem exageros, o mesmo não se pode dizer da direção de David Lowery. Optando por primeiros planos em grande parte das tomadas, o diretor insiste em realizar travellings em direção aos personagens nas mais diversas ocasiões, sem razão característica, o que acaba por cansar o espectador.
Um filme contido e contemplativo, “Amor Fora da Lei” tropeça em sua própria falta de pretensão ao construir um roteiro desinteressante. Resta-nos apenas observar enquanto os protagonistas de um amor proibido tentam superar um ambiente que não esquece suas ações e seu passado. Viver no Texas do cinema nunca foi fácil.