Coprodução Brasil/França, considerada a mais cara do cinema nacional, mistura ficção e documentário em experiência visual impecável.
Foram três anos para registrar a beleza da fauna e da flora da Floresta Amazônica nesta coprodução franco-brasileira dirigida por Thierry Ragobert (“O Planeta Branco”). Experiente documentarista, Ragobert entrou na selva para capturar o comportamento de inúmeras espécies para montar este híbrido, que também dá espaço para uma historinha feita sob medida para a criançada.
Na trama, Castanha (voz de Lucio Mauro Filho) é um macaco prego domesticado que, após um acidente, acaba caindo na Floresta. Sem saber como sobreviver naquele que deveria ser seu habitat natural, o protagonista enfrenta aventuras para conhecer as leis da selva. Na tentativa de participar de um bando, Castanha encontra Gaia (voz de Isabelle Drummond), por quem se apaixona.
O principal destaque de “Amazônia” está em sua parte documental. Toneladas de equipamentos de alta tecnologia entraram na Floresta (os produtores foram acompanhados por entidades e ambientalistas para evitar interferência no funcionamento do lugar durante as gravações) e uma equipe de profissionais brasileiros e franceses trabalharam incansavelmente para construir a história originalmente elaborada por Luiz Bolognesi e seus colaboradores de roteiro.
A imprevisibilidade da natureza também rendeu momentos não planejados pela equipe, dando ao longa uma legitimidade muito além do que pode ser visto em documentários ambientais de canais como Discovery Channel. Várias espécies aparecem no decorrer da projeção, cheias de cores, movimentos e beleza potencializados pela captura das imagens em terceira dimensão. Alguns detalhes dos bichos chegam a ser surpreendentes, o que faz de “Amazônia” uma experiência visual diferenciada na filmografia brasileira.
Os cenários naturais foram belamente fotografados pelo experiente Gustavo Hadba (“Entre Nós”, “Faroeste Caboclo” e outros) em parceria com Manuel Teran e Jérome Bouvier, a partir de consultoria do fotógrafo Araquém Alcântara, grande conhecedor da Floresta Amazônica. Na direção, Ragobert conduz um filme correto, cuja soberba artística prevalece.
Ao buscar atingir também o público familiar, e não apenas aqueles que gostam de documentários, os conflitos da reintegração de Castanha à natureza entram como opção ficcional. A ideia principal é interessante, mas os realizadores não conseguem transformar a saga do macaquinho em algo além do que o universo infantil pode compreender. Assim, as esquetes do protagonista chegam a ser ofuscadas pela beleza do longa. Ponto positivo para a dublagem de Lucio Mauro Filho, que é carismática e desenvolve muito bem o medo, a felicidade e a insegurança de Castanha naquele ambiente.
“Amazônia” teve ótima recepção em festivais internacionais e já garantiu distribuição em diversos países. Sua importância cinematográfica não reside apenas em retratar a alma da maior floresta tropical do planeta, mas acima de tudo ao passar delicadamente lições de preservação ambiental.