O carisma e a canalhice que Jude Law traz em sua performance fazem deste filme uma experiência deveras divertida.
Se tem uma coisa que o público gosta é de um bom canalha. A princesa Léia e seu Han Solo que não desmentem isso. Há uma fantasia envolvendo a possibilidade do famigerado “pau que nasce torto” vir a eventualmente se endireitar. Desde o primeiro frame deste “A Recompensa”, Jude Law abraça a canalhice de seu Dom Hemingway com gosto. E essa é a melhor e mais sincera parte desta comédia de erros escrita e dirigida por Richard Shepard.
O cineasta, aliás, retorna ao mundo de pilantras criminosos após o interessante “O Matador”, no qual um Pierce Brosnan sem glamour arrastava o pobre Greg Kinnear pelo submundo. Neste seu novo trabalho, já começamos na cadeia, onde Dom nos mostra verborragicamente quão fã de si mesmo (e de certas partes de sua própria anatomia) ele é.
Especialista em arrombar cofres, Dom passou anos preso sem jamais denunciar seu chefe, um perigoso mafioso russo (Demian Bichir). Libertado, ele sai em busca de uma sonhada recompensa pelos anos perdidos. Contando com a ajuda de seu fiel amigo Dickie (Richard E. Grant), o protagonista se vê em uma série de problemas, especialmente ao tentar resgatar seu relacionamento com sua filha, Evelyn (Emilia Clarke).
A cor vermelha, que aparece várias vezes durante a projeção, geralmente indica perigo. No caso do protagonista, esse perigo vem tanto de fora quanto de dentro, algo que a fotografia da fita deixa bem claro. De personalidade ególatra e autodestrutiva, Dom é uma verdadeira bomba-relógio ambulante, para desespero de Dickie e dele mesmo, geralmente a maior vítima de suas explosões.
Some-se isso a um azar inimaginável e uma propensão a irritar as pessoas erradas e temos um longa onde os antagonistas não precisam se esforçar muito para acabar com a vida de Dom, ele mesmo faz isso muito bem. Esse quê de bad boy perdedor somado ao carisma e charme de Jude Law e aos diálogos que Shepard costurou ao personagem resultam em uma figura extremamente magnética.
É uma pena que, com exceção do próprio Dom, o filme não traga outros elementos atrativos. O roteiro é extremamente episódico, levando apenas o protagonista e seu sidekick de uma roubada para outra, falhando em cimentar um arco narrativo central, o que acaba por jogar as performances de Grant, Clarke e Bichir para segundo plano, tendo em vista que elas apenas giram em torno da jornada de Dom, não realmente a complementando.
O próprio universo onde a história se desenrola também não é dos mais interessantes, mostrando-se bastante derivativo, uma colcha de retalhos de trabalhos anteriores de Guy Ritchie e Quentin Tarantino, referências claras da produção, tanto visual quanto textualmente. Os tipos que Dom encontra durante a projeção nunca conseguem ir além de meros estereótipos, o que até combina com a natureza fragmentada da narrativa, pois tudo o que precisamos saber sobre eles já está estampado em seus semblantes.
No final das contas, por mais óbvio que seja o desenrolar de sua trama e, consequentemente, o seu desfecho, “A Recompensa” acaba compensando por conta deste adorável malandro chamado Dom, um canalha incorrigível por quem é impossível não torcer. Mesmo que saibamos que ele jamais vai tomar jeito.