Espetáculo de sucesso dos teatros chega aos cinemas de modo confuso e problemático, mas que consegue divertir quando sua estrutura não atrapalha.
“Os Homens são de Marte… e é pra Lá que Eu Vou” é um monólogo escrito pela atriz Mônica Martelli e que ficou em cartaz no teatro durante anos, percorrendo o Brasil inteiro como sucesso absoluto. O texto foi escrito quando Mônica enfrentava dificuldades profissionais e precisava fazer algo diferente que impulsionasse sua carreira, algo semelhante ao que acontece agora, quando a peça sai dos palcos e chega às telonas.
No filme, assim como na peça, acompanhamos Fernanda (Martelli), uma quase quarentona que ainda vive em busca do grande amor de sua vida. Solteira e frustrada, a carioca ironicamente trabalha como organizadora de casamentos. Ela conta com o apoio de Nathalie (Daniele Valente) e Aníbal (Paulo Gustavo), que também servem como “apoio cômico” quando a protagonista não sustenta a trama sozinha, o que acontece com relativa frequência.
Adotando uma estrutura narrativa burocrática, que salta de um relacionamento para o outro sem estabelecer uma ligação orgânica entre eles, o diretor Marcus Baldini acaba por prejudicar o ritmo do longa, tornando-o confuso e deveras repetitivo em vários momentos. O que não surpreende, uma vez que além de possuir um codiretor, o roteiro foi escrito por três pessoas diferentes e outros dois colaboradores, fazendo da trama uma grande bagunça e que em instante algum encontra um tom correto para a história.
Apesar dos problemas na concepção da obra, o divertimento é garantido pelo timing cômico do trio principal, que arranca risos do espectador, especialmente quando os três interagem juntos. Paulo Gustavo está ótimo como sempre, por mais que a insistência no mesmo tipo de piada se torne cansativa no terceiro ato. Quando o foco vai exclusivamente para Fernanda e suas presepadas em busca do “the one”, a fita perde parte da força, ainda que também possua bons momentos, principalmente quando ela conhece um “pretendente” estrangeiro na Bahia.
A narração em off da protagonista é absolutamente intrusiva e redundante, não acrescentando nenhum elemento extra à construção do arco dramático da personagem, exceto por uma “rima textual” fajuta e óbvia que fecha a trajetória de Fernanda. Tal erro é um grave problema em termos de adaptação, já que a obra é originalmente um monólogo e a opção feita por tal recurso denuncia a falta de criatividade dos realizadores ao não conseguir transpor a conexão palco-espectador do teatro para as telonas de modo mais funcional.
Dessa forma, é adequado colocar que a adaptação cinematográfica de “Os Homens são de Marte… E é pra Lá que Eu Vou” é problemática, faltando uma estrutura mais coesa à narrativa e um tom melhor definido à história. Ainda assim, Mônica Martelli consegue alcançar um patamar de diversão satisfatório com sua tão neurótica quanto cômica personagem, constituída basicamente com os eventos e relacionamentos inspirados na própria vida da carismática atriz. Considerando o nível médio das comédias nacionais lançadas em circuito comercial nos últimos anos, esta consegue se destacar razoavelmente, o que não significa um feito digno de muitos méritos.