Mesmo caíndo aqui e ali, o estreante Stefano Capuzzo Lapietra entrega um drama esportivo eficiente e com uma lição de moral relevante.
Uma péssima notícia para aqueles que julgam um filme pelo cartaz. Se você acha que “A Grande Vitória” é um drama romântico entre Caio Castro e Sabrina Sato, esqueça. O longa de estreia de Stefano Capuzzo Lapietra é uma adaptação do livro autobiográfico “Aprendiz de Samurai”, escrito por Max Trombini. A versão romantizada do autor, aliás, é o personagem principal desta história, quase um misto de “Karatê Kid – A Hora da Verdade” e filme de autoajuda.
O mais surpreendente é que essa combinação inusitada resulta em um bom longa, isso por conta do seu elemento humano. Alguns diálogos parecem saídos de um biscoito da sorte chinês, mas quando proferidos por atores que trabalham com verdadeira emoção e que parecem acreditar no que dizem, a mensagem acaba sendo transmitida, mesmo que de maneira turbulenta.
Na trama, acompanhamos Max (Felipe Falanga), um garoto criado pela mãe (Suzana Pires) e pelo avô paterno (Moacyr Franco) com carinho, mas a falta do pai sumido acaba por levar o menino por um caminho cheio de raiva. Tentando canalizar isso para um lado positivo, Max é colocado para treinar judô sob a supervisão de um sereno sensei (Tato Gabus Mendes). A partir daí, o rapaz, posteriormente vivido por Caio Castro, passa a ver no esporte uma saída para “ser alguém na vida”.
Caio Castro pode ser até o protagonista e chamariz principal deste “A Grande Vitória” (e minha sessão estava repleta de meninas que suspiravam pelo jovem galã), mas os verdadeiros pilares da película são as interpretações de dois atores veteranos: Tato Gabus Mendes e Moacyr Franco.
Mendes poderia muito bem se tornar uma espécie de Sr. Miyagi dos trópicos e se limitar a soltar frases feitas, mas logo transforma-se em um dos corações do projeto com olhares carinhosos e serenos para com o seu pupilo e até mesmo por fugir do estereótipo que esperamos nesse tipo de papel (algo presente no filme, mas em função menor dentro da narrativa).
Já Moacyr Franco, um verdadeiro tesouro subutilizado do cinema nacional, emociona em sua curta participação, com cenas divertidas e tocantes na medida certa, na pele do arquétipo perfeito do bom avô, apoiando o seu neto até nas molecagens e exibindo uma bela química com o pequeno Felipe Falanga.
É interessante notar como essas performances fortes, incluindo a efetiva Suzana Pires, elevam não só o filme, mas o nível do trabalho de Caio Castro. Não entendam mal, Castro se sai bem em seu papel, com sua persona um tanto quanto arrogante funcionando a seu favor aqui, enriquecendo o protagonista. Mas o fato é que só nos importamos com o Max Trombini do cinema por conta dos trabalhos desse elenco de apoio.
Ainda deve ser citado o belo trabalho de câmera de Lapietra e de seu diretor de fotografia, especialmente nas cenas de competição, deveras empolgantes. O ritmo do filme também é bastante fluido e faz sentido com o tema do judô (o caminho suave). Ademais, ter o verdadeiro Max Trombini, que faz o Professor Ariovaldo, interagindo de maneira eficiente com sua “versão mais nova” e colocando-a nos eixos traz um belo impacto psicológico dentro da narrativa.
No entanto, o filme tem seus pecados. A frequência dos diálogos “biscoitinhos da sorte” torna-se maior e alguns momentos são dramaticamente forçados, especialmente com a resolução do plot envolvendo Max e seu pai ausente. Sim, o arco possui uma razão de ser, especialmente se ligando com a própria conclusão da fita, mas o modo como encontra a sua resolução é extremamente artificial.
O mesmo pode ser dito da trilha sonora, que distrai o espectador da história, ao invés de se ligar a ela de maneira orgânica. Já as participações curtíssimas de Sabrina Sato e de Carlos “Ratinho” Massa não comprometem o resultado final, embora também se mostrem mais distrações para o público. Ao menos, a beleza de Sato convence o público da paixão (ou desejo) à primeira vista entre sua personagem e Max.
Apesar dos pesares, a história de Trombini fora contada de maneira eficiente e supre uma carência do nosso cinema por dramas esportivos, principalmente por obras que não tenham a ver com futebol. De todo modo, trata-se de um bom filme com uma “lição de moral” óbvia, mas relevante.