Cinema com Rapadura

OPINIÃO   domingo, 11 de maio de 2014

Mulheres ao Ataque (2014): excesso de risos e estereótipos

Elenco garante as risadas em longa com roteiro nada original.

Mulheres ao AtaqueEscrito por Melissa Stack e dirigido por Nick Cassavetes, “Mulheres ao Ataque” conta a história de Carly Whitten (Cameron Diaz), uma mulher na casa próxima à casa dos 40 anos, sofisticada e bem sucedida no trabalho, que conhece Mark (Nicolaj Coster-Waldau), um homem com características bastante semelhantes, com quem começa a ter um tórrido relacionamento, repleto de romance e jantares em restaurantes da moda. No entanto, tudo muda quando Carly conhece Kate (Leslie Mann), uma mulher tímida, “desligada” (para usar um pequeno eufemismo), ingênua, típica dona de casa do subúrbio, com quem Mark leva uma vida de casado bastante monótona e corriqueira.

Depois de alguns encontros para entenderem a situação em que se encontram (especialmente pela parte de Kate), elas desenvolvem uma amizade e conhecem Amber (Kate Upton), uma nova amante de Mark, 20 anos mais jovem, bonita e com o cérebro do tamanho de uma azeitona. E aqui reside um dos maiores problemas do longa: os personagens têm suas características bem definidas, porém completamente estereotipadas.

Carly é uma mulher bem sucedida no trabalho, logo é uma “devoradora de homens”, sem grandes envolvimentos, chegando ao absurdo de nunca falar o nome verdadeiro de seus affairs para suas amigas. Kate é uma esposa dedicada, totalmente dependente do marido, que assina qualquer documento que ele peça sem ler. Amber é jovem e bonita, então, naturalmente burra (aparentemente essas características têm alguma conexão) e só possui roupas curtas e provocantes. Mark é um homem de meia idade que, assim como Frank (Don Johnson) o pai de Carly quando tinha sua idade, é bonito e rico, logo precisa ter várias amantes simultaneamente.

O mais lamentável disso tudo é que quando o roteiro aposta na comédia, ele acerta em boa parte do tempo. Tanto nas tramas de vingança das três mulheres (mesmo a batida piada do laxante na bebida tem uma resolução divertida) ou nas crises emocionais de Kate e especialmente no clímax do filme, com show de Nikolaj Coster-Waldau, as risadas estão garantidas.

A química entre o elenco funciona, especialmente da dupla principal. Apesar de não exibir grande talento, Cameron Diaz tem um carisma magnético, em perfeito equilíbrio com o excelente timing cômico de Leslie Mann, que rouba com naturalidade todas as cenas em que participa. Os momentos em que “chora como uma vencedora” são de tirar o fôlego. Kate Upton não tem muito o que fazer com sua personagem, além de exibir seu belo corpo e servir de escada para suas companheiras. Don Johnson aparece em poucas, porém boas, incursões. Nicki Minaj também não pode apresentar mais do que sua persona e seus quadris chamativos.

Nick Cassavetes conduz bem os momentos cômicos, porém deixa o ritmo cair demais nas (poucas) intervenções dramáticas da trama. Seu maior acerto é na orientação do elenco. Ele também cria planos belos, como o amanhecer nas Bahamas, ou o modo que Carly sai de seu escritório, exaltando bem o contraste entre os dois momentos que a personagem está vivendo.

Infelizmente, no terceiro ato o roteiro comete um excesso de resoluções exageradamente fáceis, esquecendo as consequências de boa parte do que foi apresentado até então. Também há uma mudança inverossímil na personalidade das protagonistas que não é bem explicada. No entanto, apesar de problemas que não podem ser ignorados, “Mulheres ao Ataque” é uma boa pedida para uma sessão de risos descompromissada.

David Arrais
@davidarrais

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