Cinema com Rapadura

OPINIÃO   domingo, 27 de abril de 2014

Inatividade Paranormal 2 (2014): um terror de comédia

Repetindo várias e várias vezes as mesmas piadas, esta paródia é um espetáculo constrangedor, que estica seus 90 minutos de projeção em uma interminável sessão de tortura.

Inatividade ParanormalLogo no início de “O Mestre”, filme de Paul Thomas Anderson, há um momento onde o protagonista faz uma boneca de areia e começa a simular sexo com ela. Os amigos dele riem da situação, até que ela se estende por muito tempo, perde a graça e torna-se perturbadora.

Pois bem, algo bem parecido acontece neste “Inatividade Paranormal 2”. Várias vezes. Só que a intenção dos realizadores aqui é fazer comédia. E aí o público acaba entendendo pelo que os amigos de Joaquin Phoenix passaram lá na supracitada cena de “O Mestre”. Assim como a franquia “Atividade Paranormal” tornou-se deveras numerosa, contando inclusive com spin-offs internacionais, sua paródia também ganhou esta sequência, tão desastrosa quanto o capítulo anterior.

O foco principal de “gozação” aqui é o relativamente recente “Atividade Paranormal – Marcados Pelo Mal”, mas obviamente outros filmes do gênero (e mesmo “Todo Mundo em Pânico”) são referenciados durante os intermináveis 90 minutos de projeção desta fita, escrita por Marlon Wayans e Rick Alvarez, mesma dupla do “capítulo” anterior.

A trama é o de menos aqui. Um ano após a morte de sua ex-namorada Kisha (Essence Atkins) em um evento sobrenatural, o atrapalhado Malcolm (o próprio Marlon Wayans) se muda para uma nova casa, acompanhado de sua atual companheira, Megan (Jaime Pressly), e dos dois filhos dela. Não demora para que a família se veja às voltas com um amigo imaginário, uma caixa amaldiçoada e uma boneca maldita.

Wayans e Alvarez logo mostram que o repertório cômico do longa é extremamente limitado, ficando preso em piadas étnicas e gags sobre sexo misturadas com algum humor físico. As situações rapidamente tornam-se chatas e repetitivas, como um amigo bêbado que conta a mesma anedota a cada trinta segundos e fica achando graça de si mesmo.

As próprias brincadeiras com a atual leva de filmes de terror, algo que deveria ser o carro-chefe da produção, em sua maioria são frouxas e óbvias – embora a simples solução para a situação da praga de insetos seja bastante divertida, admito.

O pior é que Marlon Wayans pode ser um bom ator. Darren Aronofsky provou isso em “Réquiem Para um Sonho”. Também trata-se de um intérprete carismático e com rosto expressivo, claramente talhado para a comédia. O problema é que o material que ele produz é fraquíssimo e incapaz de sustentar um longa.

Prova disso é que, antes de entrar no ciclo repetitivo já mencionado, algumas piadas funcionam, como o diálogo de Malcolm com o seu vizinho hispânico ou a brincadeira com a insegurança de Megan. Mas rapidamente essas mesmas piadas voltam a ser contadas de novo, de novo e de novo, o que mata qualquer chance da fita manter qualquer ritmo, revelando-se um espetáculo chato, que descamba para o constrangedor.

Thiago Siqueira
@thiago_SDF

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