Longa se sustenta no clima de tensão constante e na qualidade dos protagonistas, especialmente Cusack e De Niro.
Dirigido pelo estreante David Grovic e escrito em parceria com o também inexperiente Paul Conway, aproveitando-se do roteiro já feito (mas nunca produzido) de James Russo, “Profissão de Risco” (“The Bag Man” no título original, e “Motel”, no primeiro roteiro de Russo) acompanha a jornada de Jack (John Cusack), um assassino de aluguel que precisa entregar uma misteriosa sacola a seu chefe, Dragnar (Robert De Niro), recebendo instruções veementes para não olhar o que há dentro dela. Acertados de se encontrarem em um determinado motel, as coisas saem um pouco de controle e não ocorrem exatamente como o esperado.
Com um sopro noir, o longa se desenvolve criando uma atmosfera de tensão e suspense envolvente no melhor estilo “não olhe dentro da sacola”, já tradicional em filmes do gênero. A semelhança entre o motel que serve como cenário para a maior parte das cenas com o Bates Motel de Norman e Norma Bates, do “Psicose” de Alfred Hitchcock (e da atual série de sucesso), impressiona. Neste sentido, o fato de o roteiro pré-concebido de James Russo se chamar justamente “Motel” não parece uma simples casualidade, principalmente quando notamos também certa similaridade entre a femme fatale presente aqui e as loiras de Hitchcock. Uma (não tão) discreta homenagem parece ter sido cuidadosamente pensada, ainda que a trama desta obra passe longe das geniais e já consagradas do mestre do suspense.
A direção de Grovic é irregular, de pouca inspiração, criando composições óbvias e que pouco dizem sobre os personagens e seus conflitos internos. Contribui para isso também um design de produção burocrático, que não acrescenta nenhum elemento interessante extra à narrativa, além de uma trilha pouco instigante, esta de responsabilidade de Tony Morales e Edward Rogers. Ainda assim, o estreante é feliz ao estabelecer rimas visuais e sonoras que permeiam toda a película, desde o número do quarto em que o protagonista está hospedado, até simples afirmações que serão retomadas mais à frente de forma coerente, dando coesão e solidez à narrativa.
Apesar de uma parte técnica pouco atuante, é na qualidade dos atores e no clima pesado construído de maneira eficiente que o longa encontra sua força principal. A dinâmica estabelecida entre o personagem de Cusack e a enigmática Rivka da brasileira Rebecca da Costa prende a atenção do espectador de modo satisfatório, em nenhum momento deixando a tensão descambar para obviedades ou decisões previsíveis. Sem contar um Robert De Niro seguro, que além de todas as qualidades como ator, também serve para dar estofo ao cast, sendo essencial sob aspecto comercial, de distribuição e divulgação do projeto.
Se por um lado a construção de uma atmosfera sombria de suspense e tensão é eficiente, por outro o roteiro peca ao apostar em indivíduos caricatos, com motivações aparentemente vazias e mal desenvolvidas, sendo explicadas em meia dúzia de palavras jogadas de maneira apressada no meio da projeção. Amarrando as pontas soltas da forma mais pedestre possível, Grovic e Conway ainda introduzem um pretensioso e falho flashback na cena final que mais serve para confundir e bagunçar a trama do que propriamente para acrescentá-la um toque especial que certamente seria muito bem-vindo, caso bem orquestrado.
Assim, não existe outra palavra mais adequada para definir este “Profissão de Risco” do que ‘irregular’. Como suspense, funciona na maior parte do tempo, apoiado em uma tensão constante e em atores engajados no desafio. Sob o ponto de vista técnico e da construção dos personagens, é falho e não apresentada nada de muito novo, o que torna ainda mais louvável o trabalho dos atores envolvidos, que realmente tiveram que tirar “leite de pedra”.