Cinema com Rapadura

OPINIÃO   terça-feira, 18 de março de 2014

Justin e a Espada da Coragem (2013): o melhor da baciada

O carisma e a relação entre os personagens torna este longa um dos melhores da leva de animações trazida pela PlayArte nos últimos tempos. O que não quer dizer muita coisa...

justin-filme-playarte-posterUma analise rápida das animações distribuídas pela PlayArte nos últimos três anos nos cinemas brasileiro revela uma assustadora falta de qualidade nessas produções. É como se a distribuidora estivesse comprando esses filmes a granel, sem se preocupar muito com a qualidade dos seus produtos. Se for este o caso, o pensamento da empresa deve ser algo na linha de “crianças assistem qualquer desenho mesmo”.

O mais interessante é que este “Justin e a Espada da Coragem” até que tinha potencial, mas parece mais com um biscoito de boa receita, mas que tiraram do forno muito cedo. Escrito e dirigido pelo pouco conhecido Manuel Sicilia, com colaboração de Matthew Jacobs (“A Nova Onda do Imperador”) no texto, a fita é uma aventura medieval com uma moral um tanto quanto esquisita.

Acompanhamos Justin, rapaz um tanto quanto atrapalhado que,  a contragosto, está prestes a entrar na faculdade de direito, seguindo os passos do seu pai, advogado e legislador local. O que Justin realmente queria era ser um cavaleiro, tal qual seu falecido avô, embora estes tenham sido banidos do reino por uma lei escrita pelo pai do jovem.

Contrariando seu pai, Justin parte em uma busca pela Torre da Sabedoria para ser treinado, fazendo alguns aliados no caminho, como a valente garçonete Talia e um mago com problemas de dupla personalidade. Mas o protótipo de herói não sabe que um grande perigo se aproxima do reino, na forma de um cavaleiro renegado.

Os personagens do longa são bastante simples, mas também simpáticos, e rapidamente o público entende as funções de cada um para a história. Temos o mocinho, seu objeto de desejo, o vilão, o coadjuvante engraçadinho, o mestre, e por aí vai. A utilização desses arquétipos é a solução mais fácil para criar ligações entre o publico e essas figuras em histórias curtas como esta.

O problema da fita está é no próprio universo onde a narrativa se passa e na pouca exploração do roteiro. Pouco sabemos das motivações do vilão para suas ações ou do evento que desencadeou a queda dos cavaleiros, algo extremamente importante para a trama. Ademais, a lição que o longa tenta passar, romantizando a imposição da força sobre a razão, quando a audiência para um pouco para pensar, é meio torpe, para dizer o mínimo.

Além disso, o filme não se decide no tom que vai adotar, alternando humor escrachado e seriedade de forma muito abrupta, sem haver uma transição orgânica – como em “Como Treinar Seu Dragão”, por exemplo. Isso se reflete na trilha sonora que, sem saber que caminho exatamente tomar, acaba se mostrando por demais genérica.

O visual da produção possui um traço deveras cartunesco e exagerado, o que combina com os momentos de humor (vide o treinamento com o “dragão”), mas não encaixa tão bem com momentos mais sérios, como as discussões entre Justin e seu pai ou o duelo final. Tecnicamente, a animação é bastante fluida e o efeito de água mostrado é dos melhores.

No fim das contas, o que salva o filme é o carisma e alegria de Justin e Talia, ambos personagens otimistas e empolgados, mesmo que inseridos em um cenário muito superficial e pouco imaginativo. A relação entre o jovem herói e seu pai também merece créditos por não vilanizar este último, mostrado como um pai genuinamente preocupado com seu filho. Havia potencial para mais, mas, em meio a um roteiro raso e um vilão pouco desenvolvido, o máximo que Justin consegue é ser o filme mais razoável da baciada.

Thiago Siqueira
@thiago_SDF

Compartilhe