Franquia de sucesso dos consoles chega às telonas de forma desinteressante e esquecível.
“Need For Speed” é uma série clássica de jogos de corrida que teve início há exatas duas décadas, em 1994. Estourando com a geração PlayStation e passando por modificações ao longo dos anos, o fato é que os games nunca tiveram uma história própria, mas sempre foram apenas (bom) entretenimento para os fãs de street race. É bastante curioso, portanto, que seja feito um filme a partir do sucesso da franquia nos consoles. Como adequar a proposta de pura diversão interativa dos jogos à linguagem cinematográfica, com começo, meio e fim, personagens, motivações, drama, etc? Que história contar? A ausência de respostas minimamente satisfatórias a essas questões básicas fica evidenciada no fraco resultado da adaptação.
Dirigido por Scott Waugh (“Ato de Coragem”), o longa acompanha Tobey Marshall (Aaron Paul), um piloto e dono de uma oficina de carros no subúrbio de Nova York que, ao ser traído covardemente por seu arquiinimigo (no sentido mais clichê possível mesmo), busca vingança e justiça. Para isso, claro, ele contará com o inabalável apoio de seus inseparáveis companheiros de corrida de rua e da oficina, que, inexplicavelmente, conseguem roubar jatos e helicópteros para auxiliá-lo na sua jornada de cruzar os Estados Unidos em um Ford Mustang em menos de 45 horas para alcançar seus objetivos.
Desenvolvendo-se de forma óbvia e tosca, o roteiro, de responsabilidade dos irmãos John e George Gatins, aposta em personagens caricatos e unidimensionais, que em nenhum momento despertam o interesse ou criam qualquer tipo de identificação com o espectador. Nem mesmo o ótimo Aaron Paul, o protagonista e dono de todo o foco narrativo do longa, é capaz de segurar uma trama tão frágil. Personagens entram e saem de cena sem que saibamos exatamente quem são, por que agem daquela forma ou mesmo qual a relação deles com Tobey e sua turma, de forma que a interação entre eles e as motivações criadas em torno dela soam vazias e artificiais.
A direção de Waugh, por sua vez, é irregular e demasiadamente afetada em vários momentos. Câmera tremida, lenta, zoom excessivo, mudanças no eixo; o diretor parece não saber muito bem como – e quando – fazer uso de tais recursos em prol da narrativa, parecendo mais preocupado em “assinar” o filme com um certo estilo próprio do que em construir uma história que caminhe com as próprias pernas, sem que precise de truques desnecessários para prender a atenção do espectador. Pretensão que, diga-se de passagem, falha de forma colossal, beirando o constrangedor.
Apesar disso, as cenas de ação funcionam relativamente bem. O que, convenhamos, não é um feito digno de muitas comemorações, uma vez que o mínimo que se espera de um filme de ação é… que as cenas de ação funcionem! De todo modo, elas são realizadas de forma eficiente e, mesmo que orquestradas por uma trilha sonora pouco inspirada, conseguem provocar certa (pouca) empolgação e divertir de maneira razoável. Aqui, justiça seja feita, é digno de registro o mérito de Scott Waugh em colocar câmeras subjetivas dentro dos carros em momentos-chave durante as sequências de perseguição, estabelecendo um vínculo direto com o público fã do jogo que deu origem à fita e causando uma sensação claustrofóbica e angustiante que se encaixa perfeitamente no contexto.
Assim, escorregando fatalmente na concepção do roteiro e com uma direção irregular, que faz confusão na hora de utilizar determinados recursos, e apesar de eventuais acertos, “Need For Speed” passa longe da alta expectativa nutrida por alguns. O que prova mais uma vez que adaptar games para as telonas é tarefa das mais complicadas, provavelmente a mais difícil dentre todos os tipos de adaptação entre mídias. Criar personagens marcantes e dar vida a um universo que só existe no imaginário interativo proporcionado pelos jogos é algo que, se não for cuidadosamente planejado, tem tudo para dar errado. Como deu aqui.