Realizadores esquecem que, mesmo sendo os humanos meros coadjuvantes em meio à destruição em filmes-desastre, eles precisam ter o mínimo de carisma para o teatro da tragédia funcionar.
Os filmes que têm grandes desastres como focos de suas tramas não são exatamente novidades. Apenas para citar um exemplo contemporâneo, o diretor Rolland Emmerich fez sua carreira justamente com este gênero, que é deveras popular. Há um estranho canto das mentes humanas que gosta de ver o fim de tudo. Melhor ainda quando existe alguma veracidade no fato, por menor que seja a verossimilhança do resultado final.
Dirigido por Paul W.S. Anderson, “Pompeia” pega como mote a destruição da cidade-título, que ocorreu com a erupção vulcânica do monte Vesúvio na segunda metade do século I. Como o mero espetáculo pirotécnico não é o suficiente para um longa, o roteiro do casal Lee Batchler e Janet Scott Batchler (“Batman Eternamente”) e Michael Robert Johnson (“Sherlock Holmes”) ainda encaixam – ou ao menos tentam fazê-lo – lutas de gladiadores, busca por liberdade, crítica política e, obviamente, uma história de amor para enrolar o público até a devastação chegar.
Não entendam mal, situações dramáticas são essenciais para os filmes-desastre. A força dramática da tragédia em si só existe se o público se importar com as vítimas/personagens. O plot principal, que é o amor proibido entre o escravo gladiador Milo (Kit Harrington) e a bela nobre Cássia (Emily Browning), jamais decola e muito disso deve-se à inexpressividade do casal principal.
Harrington certamente foi escolhido por seu papel como o bastardo Jon Snow em “Game of Thrones” e o rapaz certamente tem o visual e a experiência para executar cenas de ação competentes, mas apresenta zero de química com Browning. A bela, por sua vez, tem um estilo de atuação mais introspectivo (vide “Beleza Adormecida”) que realmente não funciona aqui, resultando em uma participação apagada e sem paixão.
Adewale Akinnuoye-Agbaje, o eterno Mr. Eko da série de TV “Lost”, oferece aqui sua imponente presença física como o parceiro de Milo, o gladiador Attico, que sonha com sua prometida liberdade. Carrie-Anne Moss e Jarred Harris, ambos praticamente em participações especiais, dão vida aos pais de Cássia, chantageados pelo cruel Senador Corvo (Kiefer Sutherland) para dar a mão da jovem em casamento para ele.
O problema é que, mesmo tentando empurrar goela abaixo todo esse contexto no guião, o longa quase não dá motivos para que a audiência se importe com a sobrevivência e a felicidade dos heróis, embora até acerte em criar um vilão odioso com Sutherland, certamente a figura menos esquecível do elenco principal, a despeito do seu forçado e atroz sotaque britânico.
Com seu carisma habitual e uma atuação que deixa claro que seu personagem é o mal encarnado desde o primeiro quadro em que aparece, Sutherland parece ser um dos únicos a entender que esse tipo de longa não necessita de sutileza nenhuma e que precisa apenas dar o mínimo de pano de fundo – leia-se, personagens minimamente interessantes – antes de partir para o que interessa, que é o caos destrutivo.
E é aí que Anderson falha. Antes de chegar aos finalmentes, o diretor perde muito tempo com sequências de batalhas que, mesmo bem realizadas, não possuem qualquer força porque o público sabe o que está por vir, inclusive sendo disso pontualmente lembrado pelo próprio filme. Como vamos nos preocupar com o resultado de uma luta se, horas depois, bolas de fogo vão cair do céu e potencialmente matar todos os combatentes queimados?
No terço final da projeção, quando finalmente o Vesúvio faz o seu trabalho, os efeitos são competentes, mas nada revolucionários, e as cenas de destruição se mostram um tanto quanto breves. Anderson, mesmo com algumas mudanças bruscas de foco, é um dos cineastas que melhor se utiliza do 3D e se aproveita dos ambientes e das partículas postas em movimento pela devastação para criar eficientes ilusões de profundidade.
Quando todas as cinzas assentam e os créditos começam a rolar, uma pena que sintamos mais pela destruição dos belos cenários e figurinos que pelos destinos dos personagens em si. Nisso, “Pompeia” mais parece um espetáculo vazio que, ainda que visualmente eficiente, demora para começar e termina muito rápido.